domingo, 22 de fevereiro de 2015

A Intuição e a Sensibilidade (Equivocadas) da Governanta

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Caros amigos
Os limites da autoridade de quem exerce o cargo de Presidente da República são regulados por lei e, como qualquer outro cargo público, deve ser desempenhado de acordo com a lei e os interesses da Nação e não conforme indicam a intuição ou a sensibilidade pessoais do ocupante da ocasião.
Com que autoridade a Governanta Dilma Rousseff decidiu não receber as credenciais do novo Embaixador da Indonésia? Esta é uma atitude que está fora dos limites do seu cargo!
A escolha dos países com os quais o Brasil terá ou não boas ou más relações diplomáticas não está abrangida pelos limites da autoridade presidencial e, mesmo que estivesse, não poderia ser uma decisão unilateral ou dependente do humor momentâneo ou das simpatias pessoais do governante.
A deselegância da Sra Rousseff ao mandar expulsar o Embaixador da Indonésia do Palácio do Planalto é mais uma prova do seu destempero, da sua grosseria congênita, do seu despreparo para o cargo e da sua vocação para o totalitarismo.
Na Venezuela, onde até pessoas eleitas para cargos públicos são presas sem mandato judicial, pela simples “vontade” do ditador, a atitude da Governanta seria perfeitamente normal. Será que ela pensa que o golpe comunista do tipo bolivariano que o Foro de São Paulo lhe “sugere” já está consumado, apesar de tudo que e de todos que se levantam contra ela no Brasil e no mundo?
Este fato, que se soma a tudo o mais que vergonhosamente ocupa o noticiário nacional e internacional, é mais uma prova de que a intuição e a sensibilidade de Dilma Rousseff estão muito aquém do desejável e que ela não está, nem nunca esteve, preparada ou à altura do cargo que ocupa.
Este é um problema cuja solução está prevista na Constituição Federal e que já foi empregada em outros tempos, não muito distantes, por especial pressão do partido da atual presidente.
O tema, para desespero dos incoerentes, dos aproveitadores, dos inimigos da liberdade e dos agitadores que apoiam a Governanta, já está na pauta do Congresso Nacional e deve merecer toda a atenção e o cuidado dos brasileiros e das autoridades encarregadas de aplicar a lei e de garantir o seu cumprimento.
Gen Bda Paulo Chagas
Fonte:   Facebook
COMENTO:  mesmo considerando que o fato abordado tenha sido um "factoide" criado pelos marqueteiros governamentais - aos quais a presidAnta se submete vergonhosamente - com o objetivo de obliterar a façanha do cretino ocupante do cargo de chefe maior da Polícia Federal, acusado de ter feito recomendações aos corruptores envolvidos nas patifarias petrolíferas brasileiras, e seus advogados, para protelarem as negociações com a justiça, a atitude presidencial é mais um motivo de reforço à crítica recebida em termos internacionais de que, atualmente, o Brasil é um anão diplomático!
O vexame é agravado pelo motivo que conduziu a presidente brasileira a essa estúpida decisão: o repúdio dela e seus acólitos contra a condenação de dois bandidos brasileiros, conforme a legislação de outro país, onde eles se aventuraram, imaginando que encontrariam, lá, a mesma impunidade vigente no Brasil.
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domingo, 15 de fevereiro de 2015

Ameaça Iraniana no Uruguai? E Nós Com Isso?

por Andrés Oppenheimer
Duas recentes ameaças de bomba próximas à Embaixada de Israel no Uruguai, e a misteriosa saída do país de um diplomata iraniano que foi filmado próximo a um dos incidentes, estão levantando novas suspeitas sobre as atividades terroristas do Irã na América Latina.
Os detalhes sobre o descobrimento dos pacotes com materiais explosivos em 24 de novembro e em 8 de janeiro próximos à Embaixada israelense são pouco claros, porém estão sendo divulgados aos poucos desde que o jornal israelense Haaretz informou que o Uruguai havia expulsado um diplomata persa em função do incidente de novembro.
Tanto Uruguai como Irã negaram a expulsão do diplomata, e o governo de José Mujica - criticado pela oposição por haver minimizado os fatos - negou que haja uma "ameaça iraniana".
Porém, depois, o governo disse que o diplomata iraniano (Ahmed Sabatgold, de 32 anos) havia abandonado o país em 7 de dezembro, três dias antes que o Chanceler uruguaio convocasse o Embaixador persa para expressar-lhe a preocupação a respeito de um vídeo que identificava seu funcionário nas cercanias do fato.
Políticos da oposição no Uruguai dizem que o Chanceler Luis Almagro - atual principal candidato ao cargo de Secretário-geral da OEA - forjou estreitos laços com o Irã durante os cinco anos em que esteve na Embaixada do Uruguai em Teerã, de 1991 a 1996. Almagro tem sido um duro crítico de Israel e tratou de minimizar a importância do incidente com o Irã, dizem seus críticos.
Os oposicionistas acrescentam que Almagro demorou mais de duas semanas depois da primeira ameaça de bomba para convocar o Embaixador iraniano, inclusive quando já era conhecido o vídeo que mostra o automóvel com o diplomata persa próximo ao local do incidente. Funcionários uruguaios afirmaram que o falso explosivo provavelmente foi deixado ali para medir o tempo de resposta da Embaixada de Israel.
Em uma entrevista telefônica nesta semana, Almagro me disse que não há elementos probatórios de que o Irã ou algum diplomata iraniano estejam vinculados a estas ameaças de bomba. Disse que, longe de minimizar o fato, ele até exagerou ao convocar o Embaixador persa em 10 de dezembro, porque somente havia "casualidades" que podiam conduzir à suspeita sobre uma possível conexão iraniana.
"Quem sabe me excedi um pouco no meu cuidado profissional e atuei além do que os elementos me permitiam, porque não me agradou a coincidência de que houvesse alguém da Embaixada do Irã justamente próximo à Embaixada de Israel quando a tal maleta foi encontrada", me disse Almagro. "Porém foi uma coincidência da qual não gostei, e por isso trabalhei para que esse tipo de coincidência não ocorra mais no futuro".
Almagro qualificou sua mensagem ao Embaixador do Irã, de 10 de dezembro, como "uma advertência. Lhe adverti que estas casualidades não me agradam, e que as considero inadmissíveis". O Irã alegou que o diplomata se encontrava naquela área porque havia ido a uma consulta médica.
Quanto a ter demorado mais de duas semanas para convocar o Embaixador persa, disse que estava em uma visita oficial ao México, e que agiu ao regressar a seu país.
Perguntado por que não tornou público o fato imediatamente, Almagro disse que "isto é algo que manejamos de maneira reservada, só os países envolvidos: Irã, Israel e Uruguai". Acrescentou que se tivesse evidencias para fazer uma denúncia pública "a teria feito, como fiz quando um Embaixador iraniano negou a ocorrência do Holocausto".
Minha opinião (A.O.): Almagro tem razão em que a mera presença de um diplomata persa próxima ao lugar onde se encontrou a maleta com materiais de uma bomba não prova que tenha havido uma responsabilidade iraniana.
Mas o Irã tem uma larga história de terrorismo no estrangeiro, incluindo o ataque de 1994 ao Centro Comunitário Israelita AMIA, na Argentina, no qual morreram 85 argentinos e outros 300 resultaram feridos. A Argentina solicitou que a INTERPOL prendesse vários funcionários persas suspeitos de terem planejado o ataque.
Em anos recentes, além de financiar grupos terroristas do HAMAS e HEZBOLLAH, o Irã foi acusado de envolvimento, pela Polícia da Índia, em um atentado terrorista contra um diplomata israelense, naquele país, em 2012; e por funcionários búlgaros pelo ataque suicida que matou seis turistas judeus em Burgas, Bulgária, naquele mesmo ano.
Estas ameaças de bomba no Uruguai não deveriam ser menosprezadas: parecem seguir um padrão muito habitual de um regime teocrático que vê o terrorismo como uma outra forma de fazer avançar sua guerra santa.
Fonte: tradução livre de El Colombiano
COMENTO: este tipo de incidente, aliado ao "asilo" que o Uruguai deu aos seis ex detentos de Guantánamo, acusados de terrorismo, nos faz lembrar as deficiências no controle da entrada de estrangeiros por nossas fronteiras, assunto já tratado aqui. Felizmente, temos passado incólumes, em termos de terrorismo internacional, por grandes eventos mundiais como os Jogos Pan-Americanos de 2007, o Encontro Mundial da Juventude Católica de 2013 e a Copa do Mundo de 2014. A atuação "suspeita" de agentes iranianos no Cone Sul não é novidade. Após vinte anos de protelações, surge agora a denúncia de "acordo" entre os governos iraniano e argentino para "abafar o caso" AMIA. A repercussão do caso e o possível indiciamento da presidente argentina por tentar atrapalhar as investigações em troca de petróleo persa podem radicalizar ações violentas como forma de pressão. Somado ao nosso caos político-econômico - com reflexos negativos na capacidade defensiva do país -, temos previsto para 2016 o evento das Olimpíadas. Será que continuaremos tendo a sorte de não sermos vítimas de atentados terroristas em função de "todos amarem o Brasil" (e servirmos de base de refúgio para bandidos de todos os naipes, inclusive terroristas procurados na Europa e Oriente Médio, que para cá se dirigem até "baixar a poeira")? Ou podemos confiar em nossos dispositivos de segurança? Ou podemos nos preparar para somar mais um desastre na nossa lista de fiascos internacionais?
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domingo, 8 de fevereiro de 2015

A Falácia da Desmilitarização da Polícia

por José Maria e Silva
No País em que latrocidas e estupradores são chamados de “reeducandos”, o governo federal quer que o policial que mata um sequestrador para salvar o refém seja chamado de “homicida”
Criar um “SUS” da segurança pública, unificar as polícias e despir a PM de sua farda — eis as propostas que prometem revolucionar a segurança pública no País. Praticamente unânimes entre os acadêmicos especializados na área, essas ideias conquistam cada vez mais adeptos em Brasília. É o que se percebe nas discussões da Comissão Especial de Segurança Pública do Senado, instalada em 2 de outubro deste ano (2013) com o objetivo de debater e propor soluções para o financiamento da segurança pública no Brasil. Criada por iniciativa do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), a comissão é presidida pelo senador Vital do Rêgo (PMDB-PB) e tem como relator o senador Pedro Taques (PDT-MT).
O sistema de segurança pública no Brasil está absolutamente falido” — com essa declaração, proferida numa audiência pública realizada no dia 13 de novembro último, o senador Pedro Taques resumiu um sentimento das ruas que hoje encontra guarida até nos quartéis. Cada vez mais estão surgindo depoimentos de policiais militares colocando em descrédito a própria corporação a que pertencem. É o caso do livro “O Guardião da Cidade” (Editora Escrituras, 2013, 256 páginas), do tenente-coronel Adilson Paes de Souza, fruto de sua dissertação de mestrado “A Educação em Direitos Humanos na Polícia Militar”, defendida na Faculdade de Direito da USP em 2012, sob a orientação do cientista político Celso Lafer.
Nesse trabalho acadêmico, festejado por toda a imprensa, o tenente-coronel da PM paulista defende a ampliação da carga horária do estudo de direitos humanos na formação dos oficiais da Polícia Militar, como forma de combater a tortura. Em meu artigo da semana passada, procurei demonstrar que se trata de uma falácia. O Curso de Formação de Oficiais é praticamente um curso completo de Direito e, como se sabe, é impossível estudar qualquer disciplina do Direito sem tratar dos direitos humanos, uma vez que a Constituição de 88, base legal de todas as disciplinas jurídicas, é alicerçada, de ponta a ponta, nos direitos da pessoa humana.

Sobrevivendo na Gestapo brasileira
Em vários momentos do livro, de modo quase indisfarçável, Paes de Souza compara a Polícia Militar brasileira com a Gestapo de Adolf Hitler e descreve o produto das ações da PM como um novo campo de concentração nazista. Citando um artigo da psicóloga e psicanalista Maria Auxiliadora de Almeida Cunha Arantes, sintomaticamente intitulado “Violência, Massa­cre, Execuções Sumárias e Tortura”, o tenente-coronel cita como exemplo desses casos, os 111 mortos do Carandiru, em 1992, os 493 mortos quando dos ataques do PCC em 2006 e a Operação Castelinho em 2002, “que constituiu uma emboscada”, com 12 mortos — todos bandidos do PCC, acrescente-se, já que o coronel não o faz em sua tese.
Para a psicóloga Maria Auxi­liadora Arantes, citada no livro “O Guardião da Cidade”, tais acontecimentos “são crimes filhotes de um Estado que deixou intacto um aparelho de matar e que não puniu os que o montaram”. O tenente-coronel Adilson Paes de Souza corrobora literalmente suas palavras, tanto que acrescenta a elas a seguinte frase: “De fato, Auschwitz faz-se presente”. Reparem: Paes de Souza está comparando o trabalho da Polícia Militar — instituição em que atuou durante 28 anos, chegando a tenente-coronel — com a violência das forças nazistas nos campos de concentração de Hitler.
O cientista político Celso Lafer, responsável pela dissertação de mestrado de Adilson Paes de Souza na USP, deveria ter-lhe feito uma pergunta singela antes de aceitar a orientação de seu trabalho: “Onde o senhor estava, na condição de tenente-coronel da Polícia Militar, quando seus subordinados de farda se tornaram exemplos atuais da Gestapo de Hitler, torturando e executando pessoas?” Antes de pontificar sobre os problemas da Polícia Militar, apresentando soluções mirabolantes do conforto de uma cátedra universitária, o tenente-coronel Paes de Souza deveria ter respondido para si mesmo essa pergunta.
Na condição de tenente-coronel da Gestapo brasileira (a se crer nos seus próprios conceitos), ou Paes de Souza foi cúmplice do holocausto que denuncia ou foi omisso diante dessa carnificina que imputa à PM. Em qualquer dos casos, deveria pôr a mão na própria consciência antes de se arvorar a defender tese, escrever livro e contribuir, ainda que involuntariamente, para a difamação sistemática de que a PM é vítima na imprensa e nas universidades.
Não é possível sobreviver durante 28 anos num aterro sanitário moral e dele sair com a alma cheirando a talco, como canta Gilberto Gil. Em seu livro, citando Albert Hirschman, Paes de Souza fala que os membros de uma instituição podem abandoná-la ou criticá-la quando se sentem descontentes. O autor não diz, mas, no caso da Polícia Militar, a via mais frequente é a omissão: o policial se esconde numa carreira burocrática, pontificando sobre direitos humanos, longe do tiroteio das ruas. Paes de Souza deveria explicar como sobreviveu ao horror que denuncia. Foi por essa terceira via? Sem essa explicação, suas reflexões e denúncias sobre a PM perdem muito da autoridade que poderiam ter.

Depoimentos de PM homicidas
Para exemplificar as críticas que faz à polícia, Adilson Paes de Souza colheu o depoimento de dois policiais militares condenados por homicídio e se valeu também de dois depoimentos colhidos pelo jornalista Bruno Paes Manso, do jornal “O Estado de S. Paulo”. Em junho de 2012, Manso defendeu no Departamento de Ciências Políticas da USP a tese de doutorado “Crescimento e Queda dos Homicídios em São Paulo entre 1960 e 2010”, em que faz uma “análise dos mecanismos da escolha homicida e das carreiras no crime”. O trabalho de Manso que resultou na tese já havia lhe rendido o livro “O Homem X: Uma Reportagem sobre a Alma do Assassino em São Paulo” (Editora Record, 2005), no qual o tenente-coronel buscou os depoimentos.
Os policiais ouvidos por Paes de Souza ganharam os apelidos de “Steve” e “Mike”, geralmente dados aos policiais que trabalham nas ruas. O policial Steve foi condenado a mais de 20 anos de reclusão por um homicídio a tiros e facadas.No auge da prática do ato, senti que estava cheio de ódio e acabei descarregando tudo sobre o corpo da vítima. Tinha um sentimento de ódio generalizado de tudo”, afirma o policial. De origem nordestina, o policial contou que seu pai era PM aposentado e costumava conversar com toda a família na hora do jantar sobre o sentimento de honra que envolvia a profissão. Inspirando-se no pai, Steve, ao completar 18 anos, ingressou na polícia, por meio de concurso público.
Fui designado para trabalhar numa unidade da Polícia Militar na periferia da cidade de São Paulo. Comecei a ver uma realidade que não conhecia: favelas, meninas estupradas, pessoas pobres vítimas de roubo, o que causou revolta”, conta Steve. Movido por essa revolta, diz que começou a trabalhar além do horário normal, prendendo o máximo possível de bandidos, na esperança de acabar com a criminalidade na região. O PM conta que, numa ocasião, prendeu em flagrante dois ladrões que tinham roubado um supermercado, mas na noite do mesmo dia viu os dois na rua. Quando os abordou, soube que fizeram um acordo com o delegado, inclusive deixando na delegacia uma parte da propina para o policial.
Nesse momento, percebi que a corrupção existente nos distritos policiais da área onde trabalhava gerava a impunidade dos delinquentes”, afirma Steve, que passou a frequentar velórios de policiais mortos em serviço, alimentando ainda mais sua revolta com a impunidade dos bandidos. Foi aí que decidiu fazer justiça com a própria farda: “Eu era juiz, promotor e advogado. Levava a vítima para um matagal, concedia-lhe um minuto para oração e a sentenciava a morte”. Essa vida de justiceiro fardado destruiu sua família. Sua mulher chegou a tentar o suicídio. E, na cadeia, sofreu maus-tratos e não teve a solidariedade dos colegas: os policiais que o visitavam estavam mais preocupados em sondá-lo para saber se não seriam delatados, em virtude de outras ocorrências.
Um dos entrevistados pelo repórter Bruno Paes Manso, citado na dissertação do tenente-coronel Paes de Souza, também relata que se via em guerra contra os criminosos e, movido pelo ideal de resolver o problema da criminalidade, trabalhava praticamente o dobro: as oito horas regulamentares que o Estado lhe pagava e mais oito em que combatia o crime de graça, por sua própria conta e risco. Esse policial contou ter deparado com vários casos graves, que só via em filmes. Certa vez, atendeu a uma ocorrência em que uma criança de 4 anos foi estuprada e ele, junto com outros policiais militares, evitou o linchamento do estuprador. “Nesse momento, achou um contrassenso ter que proteger quem havia praticado uma monstruosidade contra uma menina. Sentiu revolta”, relata Paes de Souza.

Mais confrontos, mais mortes
Esse é praticamente o padrão dos depoimentos de policiais militares condenados por homicídio: 
1) imersão idealista do policial no combate ao crime; 
2) revolta com a impunidade dos criminosos; 
3) justiça com a própria farda; 
4) prisão, arrependimento e transferência da culpa para a corporação militar. 
O livro “Sangue Azul” (Editora Geração Editorial, 2009), baseado no depoimento de um soldado da PM do Rio de Janeiro ao documentarista Leonardo Gudel, também segue esse padrão. E parece que o recém-lançado “Como Nascem os Monstros” (Editora Topbooks, 2013, 606 páginas), romance do policial carioca Rodrigo Nogueira, condenado e preso por homicídio, também não foge à regra.
Um sargento preso por homicídio e ouvido por Bruno Paes Manso explica que o “assassinato é uma importante ferramenta no cotidiano perigoso do policial militar que trabalha na rua”, e acrescenta que “se os policiais fossem proibidos de matar seria melhor que parassem de trabalhar”. Esse mesmo policial diz ainda: “Sem contar que a bandidagem está cada vez ficando mais ousada, mais armada e respeita cada vez menos a polícia. Isso é explicado dessa forma, isso não foi a polícia que motivou. Hoje tem muito mais reação, o pessoal enfrenta, por isso tem mais morte”. O tenente-coronel Paes de Souza, do alto de sua tese da USP, classifica essa fala do sargento como simplista, por afirmar que mais criminalidade significa mais confronto e, consequentemente, mais mortes.
Ora, simplista é o modo como o tenente-coronel, desprezando seus 28 anos de experiência como policial, utiliza esses depoimentos para corroborar teses injuriosas a respeito da Polícia Militar, que a acusam de ser uma máquina assassina, nazista, semelhante a Auschwitz. O tenente-coronel e os demais acadêmicos que escrevem teses sobre segurança pública acreditam que basta alugar o ouvido de um soldado com perorações sobre direitos humanos para que, no outro dia, ele saia à rua com flores na boca do fuzil, ajudando velhinhas no semáforo e pegando crianças no colo, até que surja um marginal armado e esse policial, consciente de seus deveres, saque da farda um exemplar da Constituição e atire no rosto do bandido seus direitos humanos, para que o criminoso estenda os pulsos com cidadania e seja algemado com dignidade.

Completa inversão de valores
Uma análise verdadeiramente profunda dos depoimentos dos homicidas da PM revela a complexa natureza do trabalho policial, que, em qualquer tempo e lugar, é inevitavelmente insalubre para a alma. O policial é como o médico: sem uma dose sobre-humana de frieza, ele não será capaz de proteger vida nenhuma, pois o medo do sangue, da mutilação, do cadáver, irá acovardá-lo diante do dever a ser cumprido. Por isso, ser policial não é para qualquer um. Os policiais homicidas tentam enganar a própria consciência quando dizem que a corporação os transformou em violentos. O potencial de violência já estava presente neles — ou não teriam sonhado em ser policiais. Polícia não é assistência — é contenção. Por isso, tem de ser viril.
A testosterona que faz o bandido violento é a mesma que faz o policial corajoso. Por isso, ao contrário do que acreditam os acadêmicos, o policial tem que tratar o bandido como inimigo, sim. O soldo sozinho — por maior que seja — não é capaz de separar o policial do criminoso, pois a natureza mais profunda de ambos se alimenta da mesma virilidade masculina, responsável por mais de 90% dos crimes que são praticados em qualquer cultura humana em todos os tempos. Por isso, o policial corajoso precisa ser tratado como verdadeiro herói pela sociedade. Mas não basta. Como o ser humano é um ser relativo e não consegue julgar em absoluto, mas somente por meio de comparação, é preciso enaltecer o policial — e, ao mesmo tempo, punir verdadeiramente o criminoso, para marcar a diferença entre ambos.
Todavia, hoje ocorre justamente o contrário. O policial se revolta ao proteger de linchamento o estuprador de uma criança porque sabe que não será feita justiça. Mesmo esse tipo de criminoso tem direito a todas as regalias da legislação penal, travestidas de direitos humanos. A população brasileira não tem consciência disso, mas até os criminosos que matam ou estupram mulheres acabam tendo benefícios absurdos, como visita íntima na cadeia, o que as feministas defensoras dos direitos humanos traduzem como “direitos sexuais”. Ora, direito sexual é como direito de expressão: toda pessoa tem o direito de falar, mas não tem o direito de obrigar o outro a ouvi-la.
O preso não pode ser impedido de sonhar com uma mulher ou até de satisfazer solitariamente sua libido. Seria uma tortura psicológica privá-lo desse instinto básico. Mas isso não significa que ele tem o direito de manter relações sexuais dentro da cadeia, mesmo que seja com sua esposa. E a razão é simples: seu desejo sexual não pode ser posto acima da segurança da sociedade. É óbvio que, durante a visita íntima, não há meio de controlar o preso. Ele pode usar a visita — e sempre usa — para transmitir recados aos comparsas fora da cadeia, daí o comando que o cárcere continua tendo sobre o crime organizado. Praticamente todas as centrais telefônicas do PCC são administradas por mulheres de presidiários. E mulher de preso inevitavelmente o obedece, sob pena de ser morta.
O mesmo se dá com a alimentação do preso. Não deixar um latrocida passar fome na cadeia é garantir-lhe um direito humano básico, mas permitir que ele escolha o cardápio, por meio de rebeliões, como ocorre com muita frequência nos presídios brasileiros, não passa de um abuso com o dinheiro de suas vítimas. O preso tem direito a remissão de pena não só por dias trabalhados, mas também por horas de estudo e até leitura de romances. Ou seja, o que os acadêmicos chamam de “direitos humanos” são, na verdade, direitos civis, que deveriam ser privativos do cidadão que respeita as leis e não do bandido que fere o contrato social e, por isso, tem de ser excluído da esfera da cidadania enquanto cumpre sua pena.
Hoje, a inversão de valores é tanta que, oficialmente, por meio das políticas públicas do governo petista, o policial militar se tornou o verdadeiro inimigo público, enquanto se concede ao criminoso o monopólio dos direitos humanos. A Resolução nº 8, de 21 de dezembro de 2012, da Secretaria dos Direitos Humanos da Presidência da República, sob o comando da ministra Maria do Rosário, estabelece em seu artigo 1º que, quando um bandido morre em confronto com a polícia, na descrição de sua morte nos registros oficiais não deve mais ser usada a expressão “resistência seguida de morte” e, sim, “homicídio decorrente de intervenção policial”.
A alegação é que os policiais utilizam o chamado “auto de resistência” para esconder execuções. Ora, nos casos em que isso ocorre, não vai ser mudando as palavras que o crime deixará de ser praticado. Mais do que a nomenclatura, o que importa em qualquer crime é a investigação. E essa não deixará de ser feita caso um auto de resistência levante suspeitas. Prova disso é que dezenas de policiais militares são expulsos da corporação no Brasil. A Polícia Militar não é necessariamente pior do que a Polícia Federal, a Polícia Civil, o Judiciário, o Ministério Público, a OAB. Se os maus elementos de cada uma dessas corporações fossem enforcados nas tripas dos maus elementos das outras, garanto que não sobrariam condenados nem tripas. Principalmente quando se leva em conta o contexto em que cada uma delas atua — e, nesse caso, o contexto da Polícia Militar é, sem dúvida, o pior. Nenhuma instituição tem o monopólio do bem ou do mal. E ainda que a Polícia Militar fosse mesmo a pior de todas essas instituições, eu pergunto: convém desmilitarizar a polícia num País em que o bandido preso transforma até a cadeia em quartel do crime?
Fonte:  Palavra Acesa
COMENTO: o texto tem mais de um ano, mas continua atualíssimo!
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