terça-feira, 5 de março de 2013

Terrorismo — Um Pouco de História

por Carlos Ilich Santos Azambuja
 Historiador
O terrorismo é uma forma de propaganda armada. É definido pela natureza do ato praticado e não pela identidade de seus autores ou pela natureza de sua causa. Suas ações são realizadas de forma a alcançar publicidade máxima, pois têm como objetivo produzir efeitos além do dano físico imediato.
O terrorismo pode ser definido como o uso ilegal da força ou a violência contra pessoas ou propriedade objetivando influenciar uma audiência e coagir um governo e a população de um Estado em proveito de objetivos políticos ou sociais. Prédios públicos, instituições e instalações que desempenhem funções importantes e simbolizem a ordem vigente são os alvos preferidos. Também ataques indiscriminados e ao acaso contra a população, visando atingir suas atividades cotidianas, em supermercados, lojas, restaurantes, aeroportos, terminais rodoviários e ferroviários, objetivando, nesse caso, fomentar um generalizado clima de medo e o sentimento de que ninguém está seguro, em parte alguma, seja qual for a sua importância política.
Uma das características que define o terrorismo moderno é a sua internacionalização, resultante de três fatores, até certo ponto complementares:
— a cooperação existente entre organizações terroristas de diferentes regiões;
— o fato de Estados nacionais apoiarem grupos terroristas e utilizarem o terror como meio de ação política, especialmente no Oriente Médio;
— a crescente facilidade com que terroristas cruzam fronteiras para agir em outros países, mormente quando o controle fronteiriço é deficiente.
Em julho de 1993, enquanto negociava a paz em segredo com a Síria, Israel lançou contra o Hezbollah a Operação Ajuste de Contas, que consistiu no bombardeio de aldeias e cidades situadas em uma faixa de segurança de 14 quilômetros no sul do Líbano, criada em 1985.
Em fins de julho de 1993, o saldo dessa Operação era de 86 mortos, 480 feridos e 360 mil libaneses deslocados dessa região para Beirute. Tudo isso entre o fogo cruzado dos israelenses e do Hezbollah, que dispunham de mísseis soviéticos Katiushka.
Como a História registra, a Operação Ajuste de Contas não trouxe qualquer resultado prático para Israel. Ao contrário, desencadeou uma série de críticas internas e a repulsa internacional.
Hezbollah (Partido de Deus) é uma organização política, religiosa e militar, surgida em 1982, no Líbano, país de maioria muçulmana, então dirigido por uma minoria católica chegada ao poder com o apoio de Israel. Anteriormente, em 1959 e nos anos de 1974 e 1975, o antagonismo entre muçulmanos e católicos no Líbano desencadeou uma virtual guerra civil no país.
Hezbollah surgiu da fusão de dois grupos: o partido islâmico pró-Síria, Amal (que significa Esperança), dirigido por Hussein Musawi, primo de Abu Abbas, dirigente do Hezbollah até sua morte em mãos de um comando israelense, e um grupo originário do Vale do Bekah, dirigido por Subbi Tufaili.
O Vale Bekah, ao sul do Líbano, contava, na época, com a proteção das tropas sírias. Sua economia consistia nos cultivos mais importantes do mundo da papoula, de onde é extraído o ópio, e do haxixe. Na região estava instalada uma plataforma síria de lançamento de mísseis.
O grupo xiita representa 30% da população do Líbano e é considerado o mais radicalizado da maioria muçulmana do país. Esse grupo, a partir da revolução iraniana, tentou criar um Estado regido pelas leis islâmicas e expulsar do país a minoria cristã. Sua política com relação aos habitantes do sul do Líbano era similar à desenvolvida atualmente pela guerrilha das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC): em regiões onde o Estado não existe, auxiliam as populações desassistidas e impõem a sua lei.
Em outubro de 1983, o Hezbollah realizou sua primeira operação terrorista: um caminhão-bomba dirigido por um militante-suicida foi lançado contra um quartel da Infantaria de Marinha dos EUA, perto do Aeroporto de Beirute, causando 241 mortes. Pouco tempo depois, um outro caminhão foi lançado contra um quartel das tropas francesas, também em Beirute, deixando 58 vítimas.
Após cada atentado o Hezbollah comunicava-se com a imprensa, reivindicava a ação e enviava uma série de fotos dos quartéis, obtidas antes dos ataques, revelando que havia sido realizado um prévio levantamento dos alvos.
Na lista de atentados do Hezbollah,  os seguintes são os mais importantes: quartel do Exército israelense na cidade de Tiro, no Líbano, em 4 de novembro de 1983 (60 mortos); Embaixada da França e EUA no Kwait, em 12 de dezembro de 1983 (7 mortos); anexo da Embaixada dos EUA em Beirute, em 21 de setembro de 1984 (23 mortos); Embaixada dos EUA em Beirute, em 8 de abril de 1993 (63 mortos).
Todos esses atentados foram reivindicados pelo Hezbollah, que além disso realizou uma extensa série de sequestros e atentados individuais, como a tomada da Embaixada dos EUA no Irã durante 444 dias, em novembro de 1979; o assassinato de Malcom Kerr, Presidente da Universidade Americana em Beirute, em 18 de janeiro de 1984; o sequestro do jornalista Jeremy Levin, da rede CNN, em 7 de março de 1984; o sequestro do voo 221, com destino a Teerã, em 3 de dezembro de 1984, durante o qual dois oficiais do Departamento de Estado dos EUA foram mortos; o sequestro, em Beirute, do jornalista Terry Anderson, em 16 de março de 1985; atentado a bomba na sinagoga de Copenhague, em 22 de julho de 1985; uma série de atentados a bomba em Paris, no mês de setembro de 1985, deixando nove mortos; o sequestro de quatro professores do University College, em Beirute, em 24 de janeiro de 1987.
Nessas ações terroristas, o Hezbollah utilizou distintas denominações objetivando confundir os Órgãos de Inteligência ocidentais: Jihad Islâmica (quando de objetivos ocidentais no Líbano); Resistência Islâmica (quando os objetivos eram israelenses); e outras denominações ocasionais, como Organização para a Justiça Revolucionária, Organização dos Oprimidos da Terra, ou Jihad Islâmica para a Libertação da Palestina.
Embora o Alcorão proíba o suicídio, a morte dos condutores de carros-bombas é justificada pelo Hezbollah sob a alegação de que o resultado é equivalente ou excede a perda da alma do suicida.
As divisões internas do Hezbollah acentuaram-se a partir de 1989. No Congresso realizado em 1991, Abbas Musawi foi eleito dirigente máximo do grupo. No entanto, foi assassinado logo depois, em fevereiro de 1992, por um comando israelense. Essa morte foi assinalada por alguns como motivadora do atentado a bomba à Embaixada de Israel em Buenos Aires, pouco menos de um mês depois.
Como se observa hoje, o Fundamentalismo Islâmico substituiu o Marxismo-Leninismo e o Anarquismo como principal ideologia revolucionária utilizada para justificar, gerar e difundir o Terrorismo.
A conclusão é de que o Terrorismo deve ser combatido de uma forma total e coordenada, sob pena de fugir ao controle. Uma defesa puramente passiva  o Contraterrorismo  historicamente não tem constituído um obstáculo suficiente para conter o seu desenvolvimento. O Antiterrorismo, ao contrário, sugere uma estratégia ofensiva, como o emprego de toda uma gama de opções para prevenir e impedir que atos terroristas ocorram, levando a guerra aos terroristas.
Essa, todavia, não é uma tarefa simples. Exige Serviços de Inteligência altamente capacitados e governos determinados, uma vez que, nesse caso, as represálias são levadas a efeito antes que haja qualquer ataque. Antes, portanto, que sejam causados quaisquer tipos de danos. O Antiterrorismo é, portanto, uma resposta a algo que ainda não ocorreu.
É impossível proteger por todo o tempo todos os alvos em potencial, ficando, assim, sempre, os terroristas, com a vantagem da iniciativa. Para que essa proteção fosse efetiva seria necessário implantar um Estado-policial, exatamente o tipo de situação que os terroristas gostariam que fosse criada, pois, assim, teriam um inimigo fascista para combater, em nome da democracia.
Uma democracia não pode utilizar um cidadão em cada cinco para ser policial  como ocorre em Cuba, com os Comitês de Defesa da Revolução. Não pode fechar suas fronteiras e nem restringir as viagens dentro do país. E muito menos manter uma vigilância constante sobre cada hotel, cada prédio, cada apartamento em cada andar. E nem gastar horas revistando carros nas ruas e bagagens de viajantes nos aeroportos e nos terminais rodoviários e ferroviários.
Assim sendo, uma das únicas defesas contra o Terrorismo é a possibilidade de realizar uma infiltração nos grupos terroristas, com a finalidade de conhecer antecipadamente quando e onde um alvo será atacado. Essa, contudo, como já foi dito, é uma tarefa para um excepcional Serviço de Inteligência, aliada a dois componentes fundamentais: vontade política e decisões que não temam riscos.
Por outro lado, a quantidade e a qualidade de Inteligência obtida será sempre julgada aquém do ideal, surgindo daí o perigo que a constante busca de melhores dados, sempre mais atuais e precisos, possa acarretar a perda de uma oportunidade ímpar de agir, o que, em si, poderá causar mais danos do que uma ação baseada em inteligência incompleta.
A resposta ao Terrorismo não está nem na complacência e nem na histeria, mas em um investimento modesto e contínuo em esquemas e contra medidas efetivas. Os cidadãos já se acostumaram a fazer seguro contra desastres que, provavelmente, nunca irão ocorrer. Os governos deveriam fazer o mesmo e se considerarem afortunados mesmo que as despesas tenham sido em vão.
Finalmente, combater o Terrorismo utilizando todos os meios parece ser uma questão de sobrevivência. A natureza do ambiente sob ameaça configurará os limites do que seja possível e moralmente aceitável fazer. Nesse sentido, uma resposta considerada inaceitável hoje, poderá ser aceitável amanhã, dependendo da ousadia dos terroristas. Aquilo que Israel, por exemplo, considera aceitável no combate ao Terrorismo, poderá não sê-lo para outras democracias.
Artigo transcrito da "Revista Aeronáutica",
 Órgão Oficial do Clube de Aeronáutica. nº 229
Fonte:  Varican

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