sábado, 30 de junho de 2012

De Honduras ao Paraguai

por Lenilton Morato
Em 2009, o presidente hondurenho Manuel Zelaya foi deposto de seu cargo presidencial por intermédio de um processo democrático e legítimo, apoiado pelas forças armadas daquele país. Imediatamente, a imprensa brasileira, na sua esmagadora maioria, taxou a atitude soberana de Honduras como sendo um golpe. Naquele momento, Zelaya infringira a Constituição hondurenha ao propor a reeleição para presidente. Nos termos daquela Carta Magna, qualquer alteração na Constituição é proibida, configurando crime. Zelaya, sendo aliado de Hugo Chávez e com o Foro de São Paulo como suporte, proporcionou um dos episódios mais vergonhosos da diplomacia de Pindorama, ao hospedar-se na embaixada brasileira. 
Aqui, no Reino dos Bananas, todos acusaram Michelleti de golpista. Mas ninguém (corrigindo, muito poucos) se deu ao trabalho de ler a Constituição de Honduras, ou mesmo de ouvir a outra versão da história. Naquela época, publiquei uma entrevista feita pela Fox News com o presidente interino que, naturalmente, foi completamente ignorada por nossos jornalistas, analistas, estrategistas e outros "istas".
Passados cerca de três anos, o Paraguai, por intermédio de um processo que correu legalmente no seu Poder Legislativo, depõe Fernando Lugo e coloca Federico Franco na presidência. Imediatamente, a mídia em peso já sentenciou que o ex-presidente do país vizinho tinha sido vítima de um golpe, que tudo ocorrera fora da normalidade, etc. O MERCOSUL virtualmente expulsou o Paraguai do bloco; petições foram encaminhadas à OEA com o intuito de desqualificar a atitude tomada, alegando a quebra de princípios democráticos. 
Vejam a semelhança dos dois casos. Em ambos, dois presidentes foram depostos por processos legais e democráticos. Nos dois processos, a diplomacia nacional quebra o princípio da não intervenção em assuntos internos de países estrangeiros, tomando um posicionamento favorável aos legalmente depostos. Para arrematar com fitas áureas, os dois personagens são apoiados pela estrutura continental do Foro de São Paulo.
Surpresa para uns (normal para outros), é o silêncio sepulcral de nossa mídia, políticos e governos acerca das violações diárias à democracia praticadas em Cuba. Naquele cárcere caribenho não há qualquer noção de liberdade, e seus cidadãos são obrigados a permanecer eternamente enjaulados. Quando alguém faz greve de fome pela democracia, nosso ex-presidente e agora dotô Lula, pronunciava-se a respeito com um irônico "não podemos fazer nada, é assunto interno".
O mesmo caminho seguem seus seguidores, ou seja, toda a classe política, jornalística e acadêmica. Mas porque nossos mandatários não se indignam com as violações da democracia em Cuba? Ora, os Castro são sócios-fundadores do Foro de São Paulo. Sentiu o drama? Para essas pessoas, a democracia só deve ser respeitada se favorecer "a minha galera". Qualquer atitude tomada, por mais legal que seja, contra os governantes esquerdistas serão automaticamente classificadas como golpistas. Este é o pensamento doentio de virtualmente todos os formadores de opinião e dirigentes do país.
Para aqueles que estudam as relações de poder e a estrutura da esquerda latino-americana nada disto surpreende. Eles sabem que a mídia e a academia estão comprometidas com a causa, bem como conhecem muito bem a definição de democracia utilizada pela esquerda. Afinal, comprar o poder legislativo de um país de dimensões continentais e ainda conseguir a reeleição prova que o conceito de democracia há muito foi esquecido por estas bandas.

Nenhum comentário: