quinta-feira, 9 de junho de 2011

Brinde Velhaco

por Bruno Peron
"La tierra es del indio. La tierra — grita su conciencia — es mía.
La tierra no fue del "blanco" español, ni es ahora de su descendiente el cholaje mestizo. 
¿Por qué — se pregunta — voy a pagar impuesto de mi tierra; 
y pagar a otro hombre que no tiene ningún derecho sobre mi tierra? 
¿Por qué me han de obligar a pagar impuesto de una tierra que no es de ellos?
[...]¿Que esos impuestos serán para el indio? 
Mentira. Ningún ladrón roba para su víctima."  
(Fausto Reinaga. La revolución india.)
Que "emergência" comemora o Brasil diante de seu povo miserável e os olhos do mundo? O país tem mostras positivas e progressistas, mas seus porta-vozes bradam pelo viés errôneo, o econômico, justamente aquele que o Brasil serve de bandeja às potências mundiais enquanto carecemos das necessidades básicas para crescer como cidadãos dignos.
A imagem transmitida aos espectadores de outros países (sobretudo investidores, promotores de eventos e turistas) parece mais uma empreitada dos meios de comunicação e suas estratégias de manipulação, segundo diria o linguista gringo Noam Chomsky.
A imprensa é um importante veículo informativo e formador de opinião, porém alguns meios abusam da credulidade do povo brasileiro e fazem-se passar por fiscalizadores, justiceiros, ou até órgãos de governo, mas não passam de mega-empreendimentos travestidos de "reportagem" que usurpam o espectro público e movimentam fortunas pela publicidade.
O partido político TV Globo presta um dever à sociedade ao descortinar desvios de dinheiro na Prefeitura de Campinas, uma prática condenável e hedionda, mas transparece o ativismo político de seus programas de telejornalismo, que se têm dedicado todo o tempo a esta "matéria", baseiam-se em acusações sem direito e tempo de defesa, e desconsideram que todo o sistema representativo brasileiro está putrefato. A acusação, portanto, seria pertinente para esquemas de corrupção que ocorrem em quase todas os paços municipais.
Por que a TV Globo só fala da Prefeitura de Campinas?
Estas intervenções são tão marcantes que exigem uma revisão do tipo de cidadãos que somos e do tipo que queremos ser para tocar este país gigante e promissor para frente com humildade e sem mágoas de beneficiar, por exemplo e quando necessário, o povo paraguaio com aumento do repasse financeiro pelo excedente energético de Itaipu e de receber com os braços abertos a Venezuela como o mais novo país mercosulenho.
Somos uma comunhão de países. Cresceremos juntos.
A regeneração do mundo exigirá mais de nós como cidadãos atuantes, informados, perseverantes e trabalhadores do bem em detrimento de qualquer "representante" que se ponha no caminho com o discurso ardiloso de que defenderá nossos interesses.
A preservação dos recursos da natureza é um modo de estimular o músculo da cidadania, como através do reaproveitamento de materiais produzidos pelo homem.
Idealizo algumas etapas da reciclagem: 
1) Depositar orgânicos numa lixeira e não-orgânicos noutra; 
2) Fazer a separação habitual, mas priorizar o consumo de produtos com embalagens retornáveis; 
3) Fazer a separação habitual, investir em embalagens retornáveis, e ainda consumir produtos a granel sem o "atrativo" marqueteiro das embalagens, que por vezes são mais caras que o produto; 
4) Produção para o bem-estar coletivo, sem o artifício da "obsolescência programada", que encurta propositalmente o tempo de vida dos produtos.
De uma etapa passaremos à próxima segundo o calor de nosso engajamento. A superação de cada uma depende da ação e cobrança dos cidadãos e não virá como um "presente" das "autoridades". Temos, assim, um indicativo do compromisso com o meio ambiente.
Os braços de cortadores de cana-de-açúcar não extraem toneladas diárias deste vegetal para abastecer a demanda interna de alimento e de energia bons e baratos senão que atendem ao "mercado internacional" do produto que estiver mais "competitivo". Assim nos dizem os gananciosos pestilentos detentores destas terras monocultoras, que nos deixam, aos brasileiros, o pior das águas, dos ares e dos solos, enquanto se afunda de uma vez o nosso Código Florestal em prol da devastação ambiental para cultivo e exportação de soja e carne.
Por esta razão, entendo que se passou de uma fase de insatisfação para outra da intolerabilidade com as vicissitudes deste modelo de crescimento econômico e organização social. Num primeiro momento, a população desprendia fôlego para sair às ruas e sugerir grandes mudanças para o país, como no movimento redemocratizador das "Diretas Já" em 1984, ainda que com forte apelo dos meios de comunicação hegemônicos. No segundo, a credulidade dos brasileiros está em baixa porque já não se sabe mais em quem acreditar.
Ruge, portanto, a iminência de uma sublevação popular no Brasil que destituirá definitivamente a sobra burocrática corrupta e ineficiente, da qual participarei e apoiarei.
Esta etapa é necessária para corrigir a distorção do desenvolvimento brasileiro a fim de que se deixe de confundi-lo com crescimento da produção e do consumo. Reconheceremos que o endividamento por compras a prazos longos traz satisfação capciosa e momentânea.
O brinde, enquanto isso, fica entre os membros da cúpula do poder.

Bruno Peron Loureiro é mestre em Estudos Latino-Americanos pela UNAM.
E-mail: sr22@brunoperon.com.br
Fonte:  Mundo RI

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