quinta-feira, 31 de março de 2011

31 de Março de 1964 — Para Não Esquecer!

MANIFESTO DO GENERAL OLYMPIO MOURÃO, DEFLAGRADOR DO GOLPE MILITAR, EM 31 DE MARÇO DE 1964
À Nação e às Forças Armadas:
Faz mais de dois anos que os inimigos da Ordem e da Democracia, escudados na impunidade que lhes assegura o Senhor Chefe do Poder Executivo, vêm desrespeitando as instituições, enxovalhando as Forças Armadas, diluindo nas autoridades públicas o respeito que lhes é devido em qualquer nação civilizada, e, ainda, lançando o povo em áspero e terrível clima de medo e desespero.
Organizações espúrias de sindicalismo político, manobradas por inimigos do Brasil, confessadamente comunistas, tanto mais audaciosos quanto estimulados pelo Senhor Presidente da República, procuram infundir em todos os espíritos a certeza de que falam em nome de um Estado estrangeiro, a cujos interesses imperialistas estão servindo em criminosa atividade subversiva, para traírem a Pátria Brasileira, tão generosa e cavalheiresca.
E o atual governo, a cujos projetos que negam a soberania do Brasil vêm servindo essas organizações, dá-lhes até mesmo a faculdade de nomear e demitir ministros, generais e altos funcionários, objetivando, assim, por conhecido processo, a desfazer as instituições democráticas e instituir, aberrantemente, o totalitarismo que nega a Federação, a República, a Ordem Jurídica e até mesmo o progresso social.
Tentaram revoltar o disciplinado e patriótico “Círculo de Sargentos”, e, recentemente, essas organizações e esse governo tudo fizeram para desmoralizar e humilhar a Marinha de Guerra do Brasil, na mais debochada e despudorada ofensa à sua disciplina e hierarquia, que nela devem predominar.
O povo, governos Estaduais e Forças Armadas, animados de fervoroso sentimento patriótico, repelem esse processo caprichosamente executado pelo Senhor Presidente da República, o qual, divorciado dos preceitos constitucionais, negando solene juramento, pretende transformar o Brasil, de Nação soberana que é, a um ajuntamento de sub-homens, que se submetem a seus planos ditatoriais.
Na certeza de que o Chefe do governo está a executar uma das etapas do processo de aniquilamento das liberdades cívicas, as Forças Armadas, e, em nome delas, o seu mais humilde soldado, o que subscreve este manifesto, não podem silenciar, diante de tal crime, sob pena de com ele se tornarem coniventes.
Eis o motivo pelo qual conclamamos todos os brasileiros e militares esclarecidos para que, unidos conosco, venham ajudar-nos a restaurar, no Brasil, o domínio da Constituição e o predomínio da boa-fé no seu cumprimento.
O Senhor Presidente da República, que ostensivamente se nega a cumprir seus deveres constitucionais, tornando-se, ele mesmo, chefe de governo comunista, não merece ser havido como guardião da Lei Magna, e, portanto, há de ser afastado do Poder de que abusa, para, de acordo com a Lei, operar-se a sua sucessão, mantida a Ordem Jurídica.
Juiz de Fora, 31 de março de 1964.
Assinado por mim Olympio Mourão Filho,
 General-de-Divisão, 
Comandante da 4ª Região Militar a da 4ª Divisão de Infantaria.
In: — MOURÃO, Laurita.  Mourão: o general do pijama vermelho. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 2002
COMENTO:  esse foi o espírito que moveu o movimento contra-revolucionário de 1964. Infelizmente, diferentemente de 1935, a canalha não aceitou a derrota de sua nova tentativa de tornar o Brasil no maior  satélite da então URSS (União das Repúblicas Socialistas Soviéticas) e partiu para a "luta armada" impedindo que a sucessão dentro da Ordem Jurídica se concretizasse. O resultado foi um período de 21 anos de governo sob o comando militar, com alguns erros e muitos acertos. A quem não concorde é só indagar: o que foi feito nos últimos 25 anos em prol do País?  O que foi feito das estradas, escolas, hospitais, MOBRAL, e grandes construções (Itaipu, Ponte Rio-Niterói, ...) que possibilitaram "pleno emprego à população? Tudo sucateado ou desmontado por ser "entulho autoritário"!! Os governos militares fizeram milagres ou coisas excepcionais? Não! Cumpriram o que deve ser obrigação de qualquer governo.  E nos últimos 25 anos? Por que não foi dada continuidade ao trabalho iniciado?  Pense nisso!!  Esta é a Democracia que a sociedade quer e precisa?

Tráfico e Contrabando Usam a Marinha Paraguaia Para Combater a Polícia Federal na Fronteira

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Em e-mails aos quais o site de Veja teve acesso, agentes da Delegacia Especial de Polícia Marítima de Guaíra denunciam ataques sofridos nos últimos meses
por Bruno Abbud
Às 17h14 da sexta-feira, 18 de março, um agente da Polícia Federal que atua na cidade paranaense de Guaíra, fronteira com o Paraguai, enviou um e-mail pedindo socorro à Federação Nacional dos Policiais Federais (FENAPEF) em Brasília. Ele informou que, em pelo menos três ocasiões recentes, oficiais da Marinha paraguaia trocaram tiros com policiais brasileiros – segundo ele, para acobertar traficantes e contrabandistas no Rio Paraná, que marca a divisa com a cidade paraguaia de Salto del Guaira.
Nesta quarta-feira, o presidente da FENAPEF, Marcos Wink, decidiu agir.A Marinha do Paraguai está atirando contra agentes brasileiros e ninguém faz nada”, diz ele. Wink procurou o deputado Paulo Pimenta (PT-RS). Relator da CPI que investigou, em 2006, o tráfico de armas no Brasil, Pimenta poderia servir de ponte até o ministro da Justiça José Eduardo Cardozo.Queremos espalhar para o mundo a realidade na fronteira”, afirma Wink, indignado.
Em e-mails aos quais o site de Veja teve acesso, agentes da Delegacia Especial de Polícia Marítima (DEPOM) de Guaíra informam que a Marinha paraguaia tem recebido propina de traficantes e contrabandistas para disparar armas de grosso calibre contra policiais brasileiros. O objetivo seria permitir – em troca de propina – que o tráfico de drogas continue a agir impunemente na região.

Violência em Guaíra: trecho do caderno que registra os plantões da Polícia Federal descreve o tiroteio no Rio Paraná

Um dos ataques registrados pela FENAPEF aconteceu por volta das 12h do dia 17 de março, uma quinta-feira: dois agentes da PF em Guaíra embarcaram numa lancha para iniciar a patrulha rotineira no Rio Paraná quando avistaram um bote de alumínio, pintado de verde e equipado com um motor, deslizando rumo ao Paraguai. Imediatamente, exigiram ao piloto que parasse e, durante a revista, flagraram uma carga de pneus contrabandeados. Como de praxe, apreenderam o bote e seguiram para a delegacia em Guaira para registrar a ocorrência.
A 200 metros do atracadouro, em águas brasileiras, os agentes perceberam que uma lancha da Marinha do Paraguai, com cabine fechada, acelerava na direção do barco apreendido, que era escoltado pela PF. Quando os paraguaios chegaram a cem metros de distância, começaram a disparar com uma metralhadora calibre ponto 30, própria para derrubar helicópteros, instalada na proa e apontada na direção dos policiais brasileiros. Eles revidaram com 60 tiros de fuzil HK G36, arma muito menos potente, e acabaram rapidamente com a munição. Tiveram de recuar. A lancha da Marinha paraguaia se aproximou e levou de volta o bote criminoso.
Num e-mail enviado em 21 de março, um dos agentes de Guaíra afirma que nos últimos dois anos houve no mínimo cinco confrontos entre a Marinha paraguaia e a PF, reclama das condições precárias das embarcações brasileiras e revela que integrantes da Polícia Federal recomendaram o abafamento da ocorrência do tiroteio no Rio Paraná. Também conta que uma licitação, aberta para a compra de uma lancha blindada para a PF de Guaíra, foi interrompida sem motivos aparentes.
Uma reportagem do jornal Folha de S. Paulo publicada em maio de 2010 confirma que não foi a primeira vez que forças brasileiras e paraguaias protagonizaram um tiroteio na região. Nela, um delegado da PF afirmou terem ocorrido, desde março daquele ano, mais de 20 confrontos entre a Marinha paraguaia e agentes federais brasileiros em Foz do Iguaçu. Em um só dia três tiroteios foram registrados.
Em 16 de agosto de 2010, num documento de circulação interna da Polícia Federal ao qual o site de Veja teve acesso, um policial federal de Guaíra avisou ao chefe da delegacia da PF na cidade que a Marinha paraguaia havia ganhado dos traficantes um motor de popa de 300 HP com o objetivo de perseguir a lancha da polícia brasileira.
A Marinha paraguaia passou a vigiar a fronteira com o Brasil em março de 2005, depois que um advogado avisou o Ministério Público do Paraguai que a polícia facilitava o contrabando feito por embarcações na região. A FENAPEF informou que os tiroteios estão cada vez mais frequentes porque os policiais brasileiros estão frustrando muitas travessias de barcos criminosos pelo Rio Paraná. De 2007 a 2011, 163 embarcações foram apreendidas pela Polícia Federal na fronteira paranaense. Falta agora descobrir a identidade dos bandidos escondidos dentro de fardas e camuflados em embarcações oficiais das Forças Armadas do Paraguai.
Fonte: Veja

Gente Honrada, Brava Gente

por Ernesto Caruso, 
A Revolução para livrar o Brasil do comunismo em 31 de março de 1964 foi um ataque preliminar vitorioso, fato histórico, inconteste e sobejamente comprovado pela débâcle da União Soviética, matriz do regime comunista que mais semeou a morte, comprou mentes e traidores, ensinou o terrorismo, explodiu e metralhou inocentes, prostrou exangues oponentes aos milhares de milhares, fuzilou e enforcou, gerou apátridas, em nome da utopia, nada a ver com os ideais da Revolução francesa de liberdade, igualdade e fraternidade. Palavras, lema e aspirações intrínsecas à natureza do ser humano.
Revolução de 1964 sem mortos e feridos pela clarividência de líderes civis e militares e principalmente de comandantes cujo aço das suas espadas é o símbolo do poder a serviço do Estado e não para saciar o próprio orgulho, vaidade, bolso, e pior, a subserviência, fechando os olhos ao descaminho de governantes — chefes de barro, corruptos, aprendizes de ditador — se rebaixando para catar migalhas que ao chão se espalham se esquivando da luz que do alto lhes atinge a alma e fere o coração pela injustiça que ajudam a praticar.
Tal incomparável Revolução não se iguala às atrocidades havidas na matriz do comunismo onde foi instruído Luís Carlos Prestes, executor juntamente com Olga Benário, sob as ordens da União Soviética, da primeira fracassada investida contra a liberdade, na malfadada Intentona Comunista de 1935. Brasileiros, vítimas de “colegas” de farda e das armas que a Nação lhes confiara. Solo pátrio que juraram defender ensanguentado por suas mãos criminosas contracenado pleno de alegria na rendição.
A lealdade a Moscou era o primeiro mandamento; Prestes a demonstrou em discurso no Senado. 
Esse “admirável modelo de gestão do estado”, segundo autores, produziu um número de mortos que atinge aproximadamente nove milhões, sendo executados, 1,5; por fome e privações, cinco milhões; deportados, 1,7 milhão; prisioneiros civis, um milhão. Outros estimam em até vinte milhões.
Inegável é a presença do Exercito soviético massacrando os anseios de liberdade em nome da ditadura do partido único.
Na Hungria, estima-se que 600 mil foram condenados entre 1948 e 1953; em janeiro de 1957, os húngaros contabilizavam 2.500 mortos e 20 mil feridos nas tentativas de se livrarem do tacão vermelho.
Em Cuba, o regime comunista de Fidel Castro, ainda ídolo de governantes brasileiros, fuzilou entre 15 mil e 17 mil pessoas.
O líder comunista do Camboja, Pol Pot, eliminou 1,7 milhão de opositores.
À luz da verdade, não há comissão que possa transformar os fatos, a menos que faça uso da mentira e dos efeitos especiais.
A revolução de 1964 não foi um ato de indisciplina, foi um ato de coragem, sob o manto da responsabilidade do Poder Militar a serviço da Nação brasileira.
Não é indisciplina quando o segmento militar emite a sua opinião sobre questões nacionais; não é uma estrutura invertebrada. Transgressão da disciplina é componente da hierarquia para manter o conjunto harmônico e, conscientemente, é treinamento para as ações de combate.
Não se refere à cúpula do cidadão fardado, designado constitucionalmente de militar e diplomado nas universidades militares, que tem obrigação de esclarecer à Nação as suas preocupações. As ordens de governo devem ser cumpridas, mas as absurdas podem ou não, dependendo do ser de cada um.
Honra e gloria aos que lutaram, arriscaram a própria vida e a de familiares, aos que foram feridos, mortos e mutilados, defendendo a democracia, livrando os brasileiros da barbárie vermelha, da foice e do martelo. Marco histórico que preservou o nosso povo de tanto morticínio ficou registrado na madrugada do dia 31 de março, quando as forças do General Olimpio Mourão Filho deixaram Juiz de Fora, sede da 4ª Região Militar, indo em direção ao Rio de Janeiro, como a reviver o inigualável Duque de Caxias, na ponte de Itororó:  — “Sigam-me os que forem brasileiros.”  O Brasil o seguiu.
Fomos salvos de um muro separatista como o de Berlin, mantivemos a integridade territorial herdada — sem essa de Brasil Oriental, Brasil Ocidental, do Norte, do Sul como em vários países, Coréia, Vietnam, China, Alemanha — e, graças a Deus, o povo brasileiro e às Forças Armadas, seguem sem territórios liberados, ações terroristas e de guerrilha; sem o sofrimento dos colombianos com as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia.
Recebido por correio eletrônico
COMENTO: faço questão de lamentar, mais uma vez, que os contrarrevolucionários de 1964 não tenham aplicado a única funcionalidade útil do regime a que combateram, e venceram. Os que queriam transformar o Brasil em uma "Grande Cuba" deveriam ter sido encaminhados a  "El Paredón", pois esse, com certeza seria o destino dos adversários do regime comunista caso esse fosse imposto ao nosso país.

Ave, Santos Militares de 1964

por Ivo Salvany - Fortaleza/CE
Em 31 de março próximo, todos aqueles que foram terroristas, bandidos, guerrilheiros, cruéis comunistas, mercenários apátridas a soldo das ditaduras de Cuba, China e Albânia que estão hoje vivos, bem espertos e se locupletando no poder, na presidência, no congresso, nos mensalões, nas indenizações indecentes, na orgia dos ministérios, nos imorais cartões corporativos, ONGs fantasmas, fundos de pensão, etc, em Brasília e alhures, por dever de justiça e reconhecimento moral aos misericordiosos, ímpios e santos militares da revolução de 1964, deveriam se reunir e em grande romaria irem se ajoelhar, em ato de contrição, em frente ao Quartel General do Exército, no SMU, para penitencialmente saudarem e agradecerem de coração aos santos militares, daquela época, que os deixaram vivos para que, hoje, se bamburrem e enriqueçam nas esbulhadas tetas deste desgoverno.
Devem agradecer também pelos méritos da divina compaixão daqueles nobres militares que os anistiaram de seus hediondos crimes imprescritíveis de terrorismo, sequestros, assaltos, justiçamentos, assassinatos políticos, etc.
Durante o ato de contrição hão de se lembrar de que se estivessem em Cuba ou China comunista, agindo criminosamente como agiram no Brasil contra o governo em exercício, certamente todos teriam sido presos e fuzilados sumariamente em vermelhos paredons
Ave, santos militares de 1964! Aqueles que hoje se locupletam impunemente no erário público vos saúdam!

quarta-feira, 30 de março de 2011

Encontro na Selva

por Arlindo Montenegro 
Vejam só! Não bastasse o beija mão ao administrador de plantão na matriz e seu séquito, ainda tivemos de hospedar na semana passada, um ex presidente americano, um ator político, um empresário inglês e um cineasta, ditando regras para o Brasil na reunião do Foro Mundial de Sustentabilidade, realizado em Manaus. Eles dizem literalmente que temos de "sustentar" o mundo deles. 
O britânico Richard Branson determina que nossa frota de veículos seja abastecida somente com etanol e que exportemos todo o petróleo para eles. O sujeito elogiou o FHC dizendo que "foi a gestão dele que colocou o país no rumo que está hoje". E disse mais que se as taxas de desenvolvimento do Brasil, China e Japão continuarem no mesmo ritmo, logo vai faltar petróleo. Em outras palavras: freiem o desenvolvimento brasileiro. 
O cineasta James Cameron é contrário à construção de Usina Hidrelétrica de Belo Monte. O monte de empresários estrangeiros e brasileiros participantes da festa, tinha os olhos e ouvidos bem abertos para as oportunidades de investimentos. Em defesa dos povos da mata, como diria o cineasta de "Avatar", que subliminarmente mostrou a força do exército e a raiva que os generais têm, dos humildes povos que não querem deixar derrubar a mata. Uma indireta? Ou bem direta? 
Clinton, como Al Gore, defendendo a redução de emissões de carbono, mostrou como tem corrido o mundo inteiro com sua fundação, para fazer o bem da humanidade. Deu um exemplo: “Trabalhamos no Rio para trocar os semáforos por luzes de LED, que são mais caras, porém têm maior tempo de vida e emitem menos gases, além de reduzir a conta de energia das cidades”. Legal não é? Quem paga a conta? Que empresinha brasileira pode concorrer com um contrato de interesse do ex presidente americano? 
E disse mais o bondoso esquerdinha: “Não se pode construir um futuro sustentável sozinho. É preciso convencer seus parceiros China e EUA, a trabalhar junto nisso”. Taí mais uma dica: a parceria do Brasil está decidida! É Com a China e com os EUA. Como os EUA estão em linha direta com a Inglaterra e Israel, já sabemos quem manda e desmanda no pedaço e podemos estar certos que vamos continuar pagando a "dívida" para sustentar as guerras deles, os grandes. 
Os juros astronômicos que pagamos tendem a crescer. Como diz o economista Benayon, com as desculpas esfarrapadas de “reverter a aceleração da inflação este ano”, segundo os enganadores ministeriais, repetidos pelos jornalões. Discretamente já estão subindo alguns preços e o imposto sobre a renda também. Vem mais! 
A única voz dissonante do encontro de estrangeiros interferindo nos assuntos internos e ditando regras para o Brasil, foi da velha índia Macuxi, Avelina, a guardiã da Espada de Rondom, que entregou uma carta ao Schwarzeneger, convidando-o para combater "a coação, a injustiça, a violência com que demarcam terras indígenas só para atender a metas propostas e decididas em fóruns como esse, sem consulta livre, prévia e informada das minorias que, em termos quantitativos, são a maioria desprovida dos direitos fundamentais.
Uma voz brasileira, diferente dos empresários que ali estavam. Os índios da Raposa Serra do Sol, denunciavam a demarcação que se arrastou durante anos, com a invasão da Polícia Federal, separação de famílias mestiças, expulsão de rizicultores que estavam há decênios produzindo em fazendas tituladas e empregando os mesmos índios. Perdas totais. Ganhos para o Conselho Mundial de Igrejas, dirigido pela rainha da Inglaterra. Benefícios para o príncipe Charles e para os que declaram que "a Amazônia é patrimônio da humanidade e não território de nações que dizem ter a soberania". 
É bem assim, eles chegam, dão o recado e os vassalos obedecem ao pé da letra. Alguém viu esta notícia nos jornalões?
Fonte: ViVerdeNovo
COMENTO: (ATUALIZAÇÃO DE POSTAGEM) é interessante o fato de algumas pessoas demonstrarem um conhecimento "além de sua época". Acredito que o hábito de serem bons leitores ajudam a aquisição dessa característica. Além disso, as experiências de vida facilitam a visão das coisas que a maioria das pessoas não percebem. Sempre admirei os escritos de Arlindo Montenegro, e tinha a curiosidade de saber mais a respeito dessa pessoa. Isto foi esclarecido em março de 2022, por ocasião do falecimento de José Anselmo dos Santos, o famoso "Cabo Anselmo", quando o jornalista Jorge Serrão revelou que Arlindo Montenegro era um nome fictício que José Anselmo dos Santos, o Cabo Anselmo, usava para publicar seus textos no blog do amigo que o apoiava.  
https://jovempan.com.br/jorge-serrao/a-morte-do-cabo-anselmo-o-homem-que-nao-existiu.html

12 Set 63 - O Levante de Brasília - III

A visão dos Soldados
1 - Vivida por Pedro Kowaliauskas
São Paulo tinha quatrocentos e nove anos. O Parque Dom Pedro II era arborizado. Em suas confrontações havia o quartel da Sétima Companhia de Guardas do Exército Brasileiro. Era julho de 1963.
São Paulo fornecia o contingente para o Batalhão da Guarda Presidencial, que fazia três anos estava sediado em Brasília e a quem cabia toda a Guarda da Presidência republicana, que hoje é dividida com a Cavalaria.
Mil quilômetros e vinte e quatro horas de ônibus aguardavam esses jovens paulistas, paulistanos e migrantes, oriundos em sua maioria das camadas humildes da população, para integrarem as forças de defesa da Pátria. Eu estava lá.
No dia 12 de setembro de 1963 explodia a revolta dos sargentos. Um pelotão foi formado às pressas, na Companhia de Petrechos Pesados, deslocando-se ao Ministério da Aeronáutica. Houve confronto balístico. A imprensa noticiou. Eu estava lá.
Três meses incompletos da incorporação ao Batalhão da Guarda Presidencial. Seguia o mês de setembro do ano de mil novecentos e sessenta e três. Já era dia doze.
No alojamento da Companhia de Petrechos Pesados o manto da noite agasalhava os soldados que, não estando em serviço, repousavam aguardando o toque de alvorada.
De repente as luzes todas se acenderam. Era  por volta de três horas da madrugada. Nem notei que havia soado um alarme. Segundo comentários posteriores, haviam tentado invadir o Batalhão.
O 1º Ten Monteiro ordenava que a Companhia estivesse em forma, com uniforme de instrução, na pérgula. Não demorou muito e a ordem era cumprida.
A Cia. em forma, o oficial foi escolhendo alguns soldados para saírem de forma. Eu fui um deles. Havia um silêncio sepulcral.
O “choque” estava já postado ali perto. Eu imaginei que se tratava de um treinamento. Para nós que fomos escolhidos, foram distribuídos cinco cartuchos de munição para as armas que já estavam conosco.
Pronta a ordem para embarcar, rumamos ao centro de Brasília. Desembarcamos no Ministério da Aeronáutica. Imaginei que fosse um treinamento em conjunto das forças armadas.
Kortz e eu fomos escolhidos para o posto defronte ao edifício do Ministério. O tenente veio e disse:

- Vocês têm cinco cartuchos de munição. Se no prédio ao lado (Ministério da Marinha) houver algum movimento suspeito não atirem primeiro, mas, quando vocês atirarem não errem. (palavras escritas de memória, podem não condizer “ipsis literis”)
Ali ficamos por um espaço de aproximadamente uma hora para menos, quando fomos substituídos pelos Soldados Silva e Vellenick, se bem me lembro.
Foi nos dada autorização para irmos ao sub-solo do edifício, onde ficava o refeitório. Ali nos serviram aveia, em nossa caneca de campanha.
De volta, subindo as escadas, ouviam-se alguns estampidos. Kortz disse:  - É tiro!  Eu achava que era o estalo das persianas, que havia por lá.
Ao chegarmos ao salão de vidro, que dava para a rua, lá estavam, na metralhadora ponto 30 o soldado-metralhador veterano 1103 (não sei o nome) que disparava rajadas. E o Ten Monteiro disparava os fuzis  que eram substituídos em sua mão. Kortz gritou para eu dar meu fuzil ao tenente porque ele estava mandando. Logo após voltou a arma às minhas mãos, descarregada.
Alguns instantes após, tentava o jovem oficial ligar para o Batalhão, mas não conseguia linha. Não sei de onde apareceu também um telefone de manivela. Disparos ainda continuavam. Agora mais interruptos.
Algum tempo passou. Chegaram os tanques e apontaram seus canhões para o edifício insurgente.
Viam-se os braços erguidos dentro das gandolas cáqui dos fuzileiros navais saindo do prédio.
Havia sido abortada essa tentativa de fratricídio. Mas as inseminações continuaram pelos tempos vindouros.
E clareava o dia. Novamente fomos reunidos, já com reforços, desta vez presente  também o 3º Sgt  Monteiro.
A revista Manchete fazia documentação fotográfica do evento. Os soldados do BGP deitados no chão da esplanada, formavam um mar verde-oliva e os tanques de guerra pareciam tigres a mostrar suas garras.
Agora eu já sabia que não era um treinamento. Outra vez o "choque". E outra vez não sabíamos para onde estávamos indo. Paramos defronte à guarnição da Aeronáutica, até que veio a ordem para adentrarmos ao quartel. - Desembarcar!
Agora era o Sargento Monteiro no comando. Estabeleceu postos de guarda, iniciando-se o primeiro turno às nove da manhã, com período de uma hora. Fez a escala, que hoje ainda tenho em minhas mãos.
O 10º BC de Goiânia veio suprir a guarda do BGP. Ficamos em torno de três dias na Aeronáutica.
Saímos do quartel com cinco cartuchos de munição cada, mas voltamos com o cinturão de guarnição completamente cheio, tantas foram as balas encontradas escondidas dentre os arbustos, na Aeronáutica.
Estes são os soldados que participaram do primeiro evento do dia 12 de setembro de 1963, a Revolta dos Sargentos:
791-KORTZ; 820-TÉRCIO; 797-MÍLTON; 793-ALONSO; 816-GALHARDI; 799-ODARA; 775-JONAS; 781-ALMEIDA; 815-PRATES; 812-ERTL; 782-CREMONEZI; 794-CARDOSO; 813-KOWALIAUSKAS; 823-WALTER; 779-BORGES; 746-ARNALDO; 760-VELLENICH; 786-SILVA; 1103- soldado veterano (metralhador); e 780-KNOLL.
São Paulo já havia comemorado 410 anos de existência. No dia 31 de março de 1964 nasciam os anos de chumbo. Por força do "bilaquiano" dever os soldados paulistas compunham também essa faceta de nossa história.


2 - Vivida por Mário Pascual Júnior - Soldado 1270 - 4ª Cia. de Fuzileiros - 1963
Era Setembro de 1963, eu estava dormindo com uma passagem de ônibus Brasilia/Ribeirão Preto-SP, pois conseguia junto ao comando do BGP uma folga de 8 dias para visitar meus familiares, quando o Tenente Altidório me chamou e ordenou que descesse imediatamente do alojamento da 4ª Cia. e apanhasse meu armamento já que eu era o atirador do 3º Pelotão.
Imediatamente cumpri as ordens apanhando meu fuzil-metralhadora e me posicionando em uma trincheira ao lado do quartel. Até aquele momento não sabia ainda o que estava acontecendo, apenas com ordens de atirar caso houvesse invasão. Confesso que com apenas 18 anos de idade fiquei muito tenso, porém, sem medo de defender meu posto.
Ao amanhecer ouvi ruído dos tanques blindados do Regimento de Cavalaria Mecanizada se deslocando e ruídos de tiros de metralhadora ao longe, vindos do centro de Brasília. Recebi novo comando dos oficiais para que deslocasse o pelotão para embarque imediato, o que foi feito.
Ao chegarmos à Esplanada dos Ministérios constatamos a gravidade do momento: havia um sargento da Marinha morto por um oficial do BGP que fez um contra ataque para defender suas tropas.
A tensão aumenta e somos deslocados para o Aeroporto de Brasília onde ficamos em trincheira ao lado da rodovia de acesso, com ordens de revidar qualquer ataque.
Após algumas horas, fomos deslocados em direção ao quartel da Marinha que ficava um pouco distante da Capital. No caminho deparamos com um veiculo da Cia. Telefônica metralhado com o motorista morto com a cabeça caída ao volante, momento inesquecível e a tensão ainda maior.
Ao chegar ao quartel da Marinha, apoiados pelos tanques e pela artilharia de solo, tomamos o quartel e conseguimos fazer nossa primeira refeição do dia às 19:00 horas.
Alí havia a notícia: aconteceu a Revolta dos Sargentos liderados pelo sargento Garcia que na época era Deputado Federal.   Após 7 dias de tensão fui autorizado a viajar para minha cidade e rever minha família.
Finalmente quero dizer: SÃO PAULO ESTAVA LÁ.
Com muito orgulho e muita saudade, guardo comigo as recordações de meu tempo de quartel e acho que todo brasileiro deveria passar pelas Forças Armadas, pois a vida é mais valorizada após essa experiência.
Fonte:  copiados do Blog Veteranos do BGP
com adaptação dos dois textos do Sr Pedro Kowaliauskas
COMENTO:  com esta postagem, completo minha tentativa de mostrar como foi visto o mesmo episódio por um Oficial que servia em Brasília e conhecia o TO; por um Oficial de fora enviado com seus comandados para uma "missão suicida", com precárias informações sobre sua missão; e por dois Soldados que tiveram participação no fato. Nos três diferentes casos, nota-se o completo desconhecimento da situação pelos nela envolvidos. Mas sobressai o que baliza as atitudes dos militares que honram esse adjetivo: a disciplina e a hierarquia, além da noção do que é correto. Mesmo desinformados sobre o que estava acontecendo, os relatos mostram que não houve indecisão no cumprimento das ordens recebidas. Isto é o que diferencia os militares dos demais profissionais.
Amanhã comemora-se mais um aniversário da Contrarevolução de 31 de Março de 1964. Ainda hoje podemos ler ou ouvir da parte de alguns participantes causadores daquele fato histórico (e por outros que dele não participaram por nem serem nascidos, mas foram "devidamente doutrinados" para assim acreditarem) que naquele momento foi instaurada uma ditadura militar que sufocou a democracia brasileira. Alegam que a luta armada desencadeada logo depois foi para a "retomada da democracia" mas contra isso se opõem os depoimentos de algumas pessoas que participaram desse movimento e, contrariamente à maioria, possuem dignidade para falar abertamente sobre os objetivos de então.
- Carlos Fico, professor: -  A opção de pegar em armas é anterior ao ato institucional. Alguns grupos de esquerda defenderam a radicalização antes de 1968 - garante ele.
- Daniel Aarão Reis, professor de História da UFF e ex-guerrilheiro do Movimento Revolucionário Oito de Outubro (MR-8): Se as esquerdas tomassem o poder, haveria, provavelmente, a resistência das direitas e poderia acontecer um confronto de grandes proporções no Brasil -atesta . - Pior, haveria o que há sempre nesses processos e no coroamento deles:   fuzilamento e cabeças cortadas.  As esquerdas radicais não queriam restaurar a democracia, considerada um conceito burguês, mas instaurar o socialismo por meio de uma ditadura revolucionária”. “Não compartilho da lenda segundo a qual fomos - o braço armado de uma resistência democrática. Não existe um só documento dessas organizações que optaram pela luta armada que as apresente como instrumento da resistência democrática”.
- Marcelo Ridenti, Professor de Sociologia da Unicamp, argumenta que o termo "resistência" só pode ser usado se for descolado do adjetivo "democrática".  - “As esquerdas radicais se lançaram na luta contra a ditadura, não porque a gente queria uma democracia, mas para instaurar o socialismo no país por meio de uma ditadura revolucionária, como existia na China e em Cuba".  - Houve grupos que planejaram a ação armada ainda antes do golpe de 1964, caso do pessoal ligado ao Francisco Julião, das Ligas Camponesas. Depois de 1964, buscava-se não só derrubar a ditadura, mas também caminhar decisivamente rumo ao socialismo.
(citações copiadas da página do Grupo Guararapes)
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terça-feira, 29 de março de 2011

Mais um Crime do Capitalismo

por Olavo de Carvalho
O sr. Paulo Henrique Amorim é, na mídia brasileira, o exemplo mais puro de fidelidade partidária. Por isso mesmo faz tempo que deixei de ler seus artigos: consulto os planos de marketing do PT e já sei tudo o que ele vai escrever nos doze meses seguintes. Outro dia, porém, uma pessoa que ignora ou despreza esse meu hábito salutar enviou-me um texto publicado no site daquele jornalista (Conversa Afiada), que acabei lendo por não ser obra dele e sim de uma de suas leitoras, que las hay, las hay
A referida, que assinava simplesmente "Marília", sem sabermos portanto se é uma criatura de carne e osso ou um alter ego do proprietário do site, noticiava ali que fora descoberta, em La Macarena, departamento de Meta, Colômbia, uma enorme vala comum  "a maior fossa do hemisfério ocidental" , com os cadáveres de dois mil camponeses assassinados covardemente pelos paramilitares de direita, com a ajuda do Exército colombiano.
O fato, comentava a remetente, vinha sendo sistematicamente ocultado pela mídia colombiana, direitista como ela só, bem como pela igualmente reacionária Fiscalía, o equivalente colombiano do nosso Ministério Público.
Ficava portanto demonstrado, segundo a matéria, que "a Colômbia é, sem dúvida, um dos lugares do planeta no qual o horror do capitalismo se plasma da forma mais evidente, em seu paroxismo mais absoluto".
Na legenda de uma foto que para máxima credibilidade amorínica da denúncia mostrava três buracos sem nenhum cadáver dentro, concluía triunfalmente o editor do site: "Na foto, a maior — e mais funda — obra de Uribe. Só Hitler foi capaz de ir tão longe — e tão fundo."
Seria até covardia exigir de devotas almas chavistas algum conhecimento histórico mesmo elementar, mas eu, o leitor e o mundo sabemos que os nazistas não sepultavam os mortos dos campos de concentração: cremavam tudo. Quem cavou uma vala comum para esconder cadáveres foram os comunistas em Katyn.
Também sabemos qual o procedimento-padrão da propaganda comunista para pintar o capitalismo como um regime genocida. O modelo foi fixado para toda a eternidade pelo Livro Negro do Capitalismo, de Gilles Perrault, resposta involuntariamente paródica ao Livro Negro do Comunismo de Stéphane Courtois. Convocado às pressas para abafar o escândalo dos 100 milhões de vítimas do comunismo produzindo como pudesse idêntico número de mortos do outro lado, Perrault descobriu um método infalível, constituído de dois itens. Primeiro: computou as mortes ocorridas em guerras internacionais, que Courtois excluíra propositadamente para concentrar-se na soma das vítimas civis assassinadas por seus próprios governos. Segundo: completando a fraude com o engodo, atribuiu ao capitalismo a culpa por todas as mortes ocorridas na II Guerra Mundial, na guerra civil da Rússia, na guerra do Vietnã, na guerra da Argélia e na guerra civil espanhola, rotulando como vítimas do capitalismo, indiscriminadamente, as populações dizimadas nesses conflitos pelas tropas comunistas, fascistas e nazistas. Para reforçar a soma, meteu nela até mesmo — santa misericórdia! — as vítimas do massacre de Ruanda, 500 mil mortos, todos eles sacrificados por incitação demagógica da "teologia da libertação". Resultado: debitando-se na conta capitalista as violências cometidas pelos comunistas, o capitalismo se revelava mesmo um regime tão cruel quanto o comunismo, ou até pior, quod erat demonstrandum.
No caso colombiano, o método empregado não foi diferente. Durante três décadas a área de La Macarena esteve sob o controle das FARC. Sem apresentar sequer um arremedo de motivo, "Marília" e seu editor dão por pressuposto, portanto, que o morticínio — se algum houve, digo eu — deve ter ocorrido no período de 2005 a 2010, quando as Forças Armadas ocuparam a região. Nem percebem que, datando assim o ocorrido, se desmentem ao acusar de participação no crime os "paramilitares", que então já estavam desativados, desarmados e muitos deles encarcerados. É verdade que, em outras áreas e épocas, esses combatentes mercenários esconderam cadáveres em fossas, mas quem os espremeu até que confessassem tudo — e quem em seguida exumou os cadáveres — foram as Forças Armadas da Colômbia, e não se vê por que fariam isso, denunciando-se a si próprias, se tivessem participado desses crimes ou de outros idênticos. Fixando o delito no período posterior a 2005, "Marília" e Amorim inocentam involuntariamente os paramilitares. Removido o episódio para época anterior, ficam inocentadas as Forças Armadas, que não estavam no local. Se queria fazer uma denúncia séria, a dupla deveria ter ao menos evitado a contradição entre o tempo e o lugar do delito.
Aliás, se tivessem mesmo a intenção de descobrir fossas clandestinas, "Marília" e Amorim deveriam ter buscado numa outra direção. As FARC mantiveram dezenas de milhares de seqüestrados em cativeiro, em condições infra-humanas, por mais de três décadas. É impossível que alguns milhares não tenham morrido nesse ínterim, de fome, de maus tratos ou a tiros, sem haver jamais notícia de que os narcoguerrilheiros tivessem a gentileza de remeter de volta aos familiares os cadáveres dos prisioneiros mortos, que assim desapareceram duplamente: sumiram da face da Terra e nunca entraram nas contagens de "desaparecidos".
Fica portanto demonstrada, pelo método Gilles Perrault, a maldade sem fim do capitalismo e especialmente do sangrento ditador Álvaro Uribe.
Com toda a evidência, "Marília" e Amorim não leram jamais um jornal da Colômbia, pois se o fizessem saberiam que a grande mídia daquele país é anti-uribista e colecionadora voraz de denúncias contra as Forças Armadas, os paramilitares e a "direita" em geral. Saberiam também que a Fiscalia não é nenhum antro de conservadores, mas, bem ao contrário, é uma ponta-de-lança das FARC, firmemente decidida a vingar por meios jurídicos os mais heterodoxos as derrotas acachapantes que a narcoguerrilha sofreu no campo militar (veja-se, a título de exemplo, o caso do coronel Luís Alfonso Plazas, aqui descrito em 18 de junho. Saberiam, ainda, que nem a mídia nem as autoridades ficaram inativas ante a denúncia da "vala comum". Que inatividade pode ter havido numa investigação que mobilizou, tudo junto, a Chancelaria, o Departamento de Direitos Humanos da Vice-presidência, a Procuradoria da República, a Inspetoria Geral do Exército e o governo da província de Meta? A investigação (agradeço à minha amiga Graça Salgueiro o envio da notícia publicada em El Tiempo) concluiu que o cemitério está lá desde há mais de vinte anos, que os corpos foram ali sepultados um a um em épocas diversas e que, por fim, não se encontrou no local um só cadáver cujo sepultamento não estivesse oficialmente registrado na prefeitura respectiva.
Mas não é só da mídia colombiana em geral que a dupla denunciante mantém austera distância. Nenhum dos dois parece ter lido sequer a notícia original da denúncia que veiculam. Se a conhecessem, saberiam que o sinal de alarma não foi dado por "uma comissão britânica", como dizem, mas sim pela senadora Piedad Córdoba e pelo deputado comunista Ivan Cepeda, dois parceiros tradicionais das FARC, quadrilha da qual a ONG inglesa "Justice for Colombia", que só entrou na história a título de megafone ex post facto, é também notória e incondicional aliada.
Para completar, está claro que "Marília" e seu editor não examinaram nem mesmo a foto que, na opinião de ambos, prova a crueldade nazista de Álvaro Uribe: se a tivessem ao menos olhado por instantes, teriam visto que ela não mostra nenhuma "vala comum", mas, precisamente ao contrário, várias covas separadas.
No entanto, quaisquer que sejam as minhas reservas quanto ao site do sr. Paulo Henrique Amorim, confesso que o nome da coisa é notável: a expressão Conversa Afiada evidencia, com clareza exemplar, que o conteúdo ali publicado só se distingue do vazio por um hiato.

12 Set 63 - O Levante de Brasília - II

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Na época do Império Romano, quando uma Legião se preparava para ação, o Comandante, de viva voz através de seus “gritadores”, perguntava se estavam prontos. Toda a Legião, incluindo os “Auxiliares” gritavam para ele: 
“SEMPER PARATUS!”.

HISTÓRIA VIVIDA
por Gen Andrade Nery.
"Vive o País, há nove anos, um desses períodos férteis em programas e inspirações, graças à transposição do desejo para a vontade de crescer e afirmar-se.  Negue-se tudo a essa Revolução Brasileira, menos que ela não moveu o País, com apoio de todas as classes representativas, numa direção que já a destaca entre as nações com parcela maior de responsabilidade."
(Editorial do Jornal do Brasil, 31 de março de 1973).
12 de setembro de 1963
Em Brasília um movimento revolucionário que pregava uma ampla indisciplina contra a hierarquia militar e contra a autoridade e a legitimidade do Poder Judiciário, representado pelo tribunal mais alto, que é o Supremo Tribunal Federal, toma de assalto a capital do País e cria a "República Sindicalista Comunista do Brasil".
O Exército reage e determina o deslocamento da 1ª Companhia de Fuzileiros Pára-quedista para Brasília, com a seguinte missão: "Realizar um salto de combate para libertar Brasília, dos revoltosos".
Eu comandava esta companhia. Abaixo, transcrevo, o meu testemunho sobre a rebelião de Brasília. São fatos que presenciei e constam do meu depoimento publicado na página 169, do Tomo 10 - História Oral do Exército - 31 de Março – 1964.
"... Em 1963, saí da Companhia de Petrechos Pesados e assumi o comando da 1ª Companhia de Infantaria Pára-quedista, Companhia de pronto emprego, do Regimento de Infantaria Pára-quedista. Demos um nome à companhia – "Companhia Cobra". Essa Companhia deveria estar pronta para se deslocar em uma hora. Um dia, às 5h da manhã, recebi ordem para desencadear o plano de chamada e preparar a Companhia para uma missão. Pelo horário, teria sido mais fácil esperar a chegada dos soldados, às seis horas no quartel.
Às 7 horas, estava com a Companhia pronta, tudo pronto. O material ficava realmente enfardado. O efetivo era em torno de duzentos homens. O Coronel me chama e ao seu Estado-Maior. Entra o General Pinheiro – Comandante do Núcleo da Divisão Aeroterrestre, indagando:
"- Qual é a Companhia que vai cumprir a missão"?"
"- A 1ª Companhia".
"- Quem é o Comandante?"
"- Tenente Nery".
"- Tenente, aqui!".
Fiquei em pé, ao lado dele. Ele abriu em cima daquela mesa grande, no cassino dos oficiais, local da reunião, a carta de Brasília. Quando olhei, entendi o que já sabíamos durante a noite. Tinha havido uma rebelião em Brasília, a Base Aérea fora tomada, alguns quartéis já estavam tomados, alguns oficiais presos e a cidade estavam na mão de uma rebelião. Só não sabíamos a extensão do problema, naquele momento. Mas era sério. O presidente, os ministros e as principais autoridades estavam propositadamente fora de Brasília. Na verdade, foi tudo planejado. Inclusive, deputados participaram daquele levante. O General Pinheiro disse: "Tenente, não está acontecendo nada em Brasília. Você vai levar a sua tropa, desembarca, vai desarmado. Você vai fazer um desfile semelhante ao de Sete de Setembro, no Dia da Pátria, na alameda dos ministérios".
Sabíamos que não era aquilo. Acabáramos de ouvir na rádio – estávamos sempre atentos, ligados, tínhamos informações. A realidade era outra. Brasília estava sublevada, era a rebelião dos sargentos, a maioria da Marinha e da Aeronáutica. Obedeciam a um intelectualizado comando civil, não se restringiria apenas a Brasília e devia estender-se por todo o País. Da chefia da rebelião, participavam os deputados Neiva Moreira, do PSP-MA, Hércules Correia, Marco Antonio, do PCB-GB e Max da Costa Santos, do PSB-GB, sob a liderança de Leonel de Moura Brizola. Pela ordem os revoltosos pretendiam: depor o presidente da república; fechar o Congresso; acabar, sumariamente, com o Supremo Tribunal Federal, classificado como órgão inútil e dispensável; desvirtuar o regime e implantar uma República (ditadura) Socialista; transformar totalmente as Forças Armadas.
Os prédios dos ministérios da Marinha e da Aeronáutica estavam ocupados e os revoltosos já estavam no terraço, na cobertura, no telhado dos pavilhões nos esperando. Sabiam que a tropa paraquedista ia saltar. Seríamos eliminados como pombos. Íamos saltar e desfilar desarmados. Disse para o general: "General, não é isso..." Não completei a frase! Quando ia começar a falar levei uma "botinada", por debaixo da mesa. Eu estava em pé e os outros oficiais do Estado-Maior do Regimento, sentados. O Oficial de Operações, Major Giácomo Jannuzzi Neto, me deu um pontapé. Eu entendi. Era para ficar calado. Calei-me e ouvi a missão – desfilar desarmado.
Ao sair dali, fui falar com o Major Jannuzzi. Ele me disse:
"- Nery, é rebelião, se você for desarmado, você vai morrer, sua tropa vai ser eliminada. É guerra! Eles ocuparam Brasília e já leram o manifesto de criação da república sindicalista comunista do Brasil".
Eu pergunto:
"- Como é que eu vou, Major?"
"- Vá armado, claro! Você vai para a guerra!"
"- Qual é a minha missão?"
"- Você vai saltar para libertar Brasília."
Saltar, para libertar Brasília das mãos dos revoltosos, ou seja, conquistar Brasília. Essa foi a missão.
"- Onde estão os revoltosos?"
"- Ocupando os prédios dos ministérios militares. Já existem oficiais presos. Você tem que libertá-los – descobrir onde eles estão e libertá-los".
Naquele momento, minha maior preocupação era armar a Companhia – duzentos homens. E a munição? Veio a informação que tinham trancado a munição.
O Oficial de Munições do Regimento, Tenente Eglair Barcelos Alves me disse:
"- Nery, vou me virar. Deixa comigo!"
E saiu, para conseguir a munição. Comecei a pegar o armamento, quando chegou uma parte da munição. Tinha que "enfardar". Dei ordem para colocar a munição no carregador e levá-la também no cinto. O grosso da munição seria acondicionado em um cunhete, com um pára-quedas em cima para ser lançado do avião. Após o salto, você sai correndo para procurar a munição, pegá-la e levá-la com você. Sabendo que precisava de muitos pára-quedas, mandei buscá-los.
Chegou a informação:
"- O Major encarregado dos pára-quedas fechou a baiúca" – como nós chamamos o local de acondicionamento dos mesmos – "e não vai distribuir os pára-quedas para você, por ordem do General." – o pára-quedas da munição!
Na hora, imediatamente, dei a ordem para que os cunhetes fossem abertos. Mandei distribuir a munição pelos bolsos. Iríamos saltar com a munição dentro do bolso, em quantidade. Aí, surgiu um problema. Soubemos que a rebelião era dos sargentos de Brasília, com o foco principal na Marinha e na Aeronáutica.
Em virtude dos acontecimentos de 1961, quando o General Santa Rosa, Comandante dos pára-quedistas, elogiou os sargentos por não terem cumprido ordem de seus superiores hierárquicos, e do Governador Brizola mandando os sargentos matarem seus oficiais, criou-se um ambiente de mal-estar dentro da tropa. Aquilo foi sendo alimentado numa seqüência, agora essa rebelião em Brasília, era o dia 12 de setembro de 1963... Apesar de preocupado, mandei distribuir a munição para os sargentos. Não podia duvidar da lealdade dos sargentos. Paguei para ver.
Estávamos em pleno aprestamento, tínhamos que preparar a munição, preparar os fardos. O subtenente, aquele homem mais antigo, aquele sargento que foi alçado à função de subtenente, o administrador da carga da Companhia, chegou para mim e disse:
"- Tenente, preciso falar com o senhor, aliás, todos os sargentos querem falar com o senhor."
Eu disse:
"- Bom, o que houve? Vou lá."
Eles estavam numa sala, reunidos. O subtenente iniciou:
"- Tenente, o senhor mandou distribuir a munição para todos nós, sargentos. O senhor confia nos sargentos da Companhia?"
Chamei a atenção dele:
"- Em algum momento, desconfiei de vocês? Em algum momento, pensei isso? Vocês viram isso aqui entre os oficiais e sargentos do Regimento Santos Dumont? Não estou entendendo o que vocês estão falando!"
"- Tenente, a reunião é para agradecer a confiança. Conte conosco. Em nenhum momento, o senhor deixará de contar com a nossa lealdade. Conte conosco".
Assim, fui para Brasília. Eram 14 aviões. Até aeronave em manutenção decolou. Os antigos aviões C-82 voavam de porta aberta. Cruzando a serra de Petrópolis e Teresópolis, e seguindo para Brasília, fazia muito frio, eu sentado ao lado da porta olhando o vôo em formação, vi um avião pegar fogo – o avião do Tenente Maia Martins. Retornou para os Afonsos. Mais adiante, o avião do Valporto, também, pega fogo e pronto, o efetivo estava se reduzindo. Depois, eles chegaram a Brasília – dois dias depois– não houve problema.
A nossa viagem foi longa. Foi aquilo que eu disse: dentro do avião, você olha para o soldado e ele está lhe olhando, você vai para lá e ele olha para lá, você vem para cá e ele olha para cá. E eu me dei conta que eu tinha dado a ordem, antes de decolar:
"- Nós vamos saltar na alameda dos Ministérios. O suposto inimigo está ocupando os telhados dos quatro prédios e vai atirar em nós. Todos os oficiais e sargentos deverão tirar a arma do invólucro e durante a queda atirar em tudo o que se mover."
Eu, como comandante, tinha que dar uma ordem que protegesse a minha tropa e que permitisse o cumprimento da missão. Sabia que, com duzentos homens, tinha que libertar Brasília. O que é isso? A cabeça não funcionava. Qual a verdadeira dimensão disso. Brasília é muito grande. Aonde eu iria procurar esse pessoal? A ordem estava dada.
Durante o vôo, fiquei pensando: vou chegar em Brasília às cinco horas da tarde, o expediente está terminando, os funcionários estão cruzando a alameda dos Ministérios. São pessoas que vão estar se movimentando. Nós vamos atirar? Muita gente vai morrer, muita gente inocente. O mestre de salto, o comandante em cada avião, vai com o fone no ouvido, escutando os pilotos. Eu ouvia a conversa dos pilotos. Não ia haver combustível para prosseguir o vôo depois de Brasília. Eles diziam:
"- Nós vamos pousar em qualquer lugar". A situação era difícil e preocupava. Confesso que, sozinho – não tinha ninguém para conversar, eu era o único oficial no meu avião, os outros tenentes estavam nas demais aeronaves – fiquei preocupado, muito preocupado.
Aí, me veio a história de um outro livro – o emprego dos pára-quedistas belgas no Congo – quando houve um levante e muitos reféns, mais de 1.500 reféns. A tropa pára-quedista foi empregada com sucesso – eles não saltaram em cima do objetivo. Você, na sua introdução, falou na nossa EsAO, não foi? A Escola, que aplica a doutrina no seu laboratório, que é o campo, associando tática e técnica com o tiro real, o mestrado do oficial, a última escola onde aprendemos e aplicamos a tática da Arma. É errado, no planejamento pára-quedista, você traçar a sua zona de lançamento em cima do objetivo – você não salta em cima do inimigo. Ah! Que felicidade! No avião, lembrei-me disso. Então, me veio aquela sensação de satisfação – não devo saltar em frente aos ministérios – tenho que saltar longe. Fazer como os pára-quedistas belgas: pegaram tudo o que andava, tudo o que tivesse roda e foram correndo para o objetivo e libertaram os homens que estavam presos, seus patrícios.
Então, imaginei: vou saltar em outro lugar, assim nós vamos evitar atirar em tudo o que se mova. Tudo que se mova seriam os funcionários terminando o expediente, saindo de Brasília. Adquiri confiança e disse para o Comandante da aeronave – ele me avisaria vinte minutos antes, com um toque de sirene dentro do avião: "Comandante, determine a entrada em formação cerrada – para as aeronaves se aproximarem – dê uma rasante em cima da alameda dos Ministérios. Depois, vou dar a final para você". Nós íamos saltar, eu tinha decidido saltar depois da alameda dos Ministérios, bem distante. Preferia ir a pé, correndo, para o objetivo.
Quando ele cerrou, dez minutos antes de chegar em Brasília, o meu ala esquerda – eu via, a distância é curta – o meu ala esquerda estourou o motor e pegou fogo. Era, justamente, a aeronave do Tenente Brandão. Pegou fogo no motor. Aquilo foi imediato! Mudei a missão! Eu disse para o Comandante da aeronave:
"- Mande que siga direto para o aeroporto" - O aeroporto estava nas mãos dos revoltosos - "Mande-o seguir direto para o aeroporto e vamos todos para lá, vamos desembarcar."
Salto de viatura em movimento – nós sabíamos fazer isso. Quando a aeronave tocar no chão, nós saltamos sem pára-quedas, ou seja, salta e rola. É claro que nós íamos ter baixas com isso, mas nós estávamos treinados. Saltávamos de viatura em movimento até na Avenida Brasil. Nós fazíamos esse adestramento.
Ele falou:
"- O aeroporto está nas mãos dos revoltosos!"
Porém, eu sabia que um pelotão de Goiânia já estava se dirigindo para lá – uma Companhia de Goiânia – a comando do então Tenente Machado Borges, o mesmo que chegou a General. Quando a primeira aeronave, que era a do Brandão, tocou na pista, ele comandou o salto. Todo mundo pulou da aeronave – joga a arma e salta feito um fardo, feito uma roda. Você encolhe todo o corpo e sai girando, pois machuca menos. Nós pousamos em seguida.
Mas houve uma ocorrência. Realmente, o aeroporto ainda estava nas mãos dos sargentos revoltosos. Um deles, ao ver o avião pegando fogo no motor, comentou que aquele ali já está sendo destruído pelo fogo e que ele iria acabar com ele, jogando uma granada. E correu na direção do avião para jogar a granada. Acontece que ele estava perto da cerca e parece que era o estacionamento dos táxis, no aeroporto de Brasília. Os motoristas ouviram aquilo e pularam a cerca, começando a correr atrás dele!  Foi uma cena inusitada! Os motoristas se abraçaram com aquele sargento que tinha uma granada na mão, enquanto ele gritava: "- Vou soltar a granada!"
Quando o Brandão chegou, com alguns homens, a granada não tinha nem mais grampo. Estava sendo presa pelo capacete, na mão, e o sargento já com medo de soltar a granada. Após ser preso, ele confirmou que ia jogar a granada para destruir a aeronave, que sabia ser da tropa pára-quedista.
Neste ínterim, desembarcamos, corremos para frente do aeroporto e pegamos todas as viaturas, carros, caminhões e ônibus que apareceram por ali. Desloquei-me em comboio com a minha tropa – duzentos homens – chegamos na alameda dos Ministérios, do outro lado dos ministérios militares. Fiz o sinal para parar e logo a seguir o de avançar. Não falei mais nada. Nós desembarcamos correndo, tomamos de assalto os ministérios, fomos do primeiro piso até o último e fizemos setecentos prisioneiros. Todos estavam armados.
É preciso lembrar que ocorrera uma ação de um pelotão da Polícia do Exército (PE), na véspera. Naquela noite, o Tenente era o Uchoa. Mas o que houve com ele? Acontece que no momento do ataque dos sublevados ao Ministério da Aeronáutica, ele estava com o pelotão guarnecendo e resistiu ao ataque. Foram disparados muitos tiros contra o pelotão dele. Que era composto de "catarinas", lembra? Naquela época, a PE incorporava somente soldados do Sul do Brasil – os "barrigas-verdes" catarinenses – os "catarinas". Ele deu ordem de fogo porque tinha que impedir o ataque – era um ataque mesmo! Nenhum soldado atirou! Nenhum soldado atirou!  Ele tomou o fuzil de um soldado e atrás de uma coluna gastou a munição, rolou para outra coluna – todos os soldados estavam atrás das colunas do Ministério. Ele foi de soldado em soldado e resistiu ao ataque sozinho, atirando, porque os soldados não o fizeram!
A Biblioteca do Exército tem um livro, de 1958, "Homens ou Fogo". Eu li muito esse livro e se eu não me engano é do General Omar Bradley que fez um inquérito na Segunda Guerra Mundial sobre o por quê do homem não atirar, quando está em combate.
Após uma operação numa das ilhas do Pacífico, ele colocou dois ou três regimentos de "quarentena", vamos dizer assim, numa ilha do Pacífico e ouviu do comandante ao último soldado. Onde você estava na hora do ataque? O que houve? Por que você não atirou? Etc. E concluiu, dizendo o seguinte: "O fator psicológico".
Ele tem uma referência interessante: o jovem, principalmente – é o nosso caso que incorporamos recrutas – o jovem é criado para não maltratar até os animais. É aquele negócio, não amarrem uma lata no rabo do gato, não maltratem o animal e de uma hora para outro, dos dezessete para os dezoito anos ele se apresenta no quartel e nós vamos ensiná-lo a atirar para matar.
Disse isso, quando estava na Academia Militar das Agulhas Negras:
"- Nós estamos aqui para ensinar a vocês a matar, mas a matar em defesa da Pátria!"
O tenente Uchoa ficou abismado. Como é que o soldado dele não atirava? Não houve jeito dele atirar! No livro, Omar Bradley diz:  "- O maior índice de aproveitamento de tropas na Segunda Guerra Mundial foi com a tropa pára-quedista e de comandos."
Os pára-quedistas russos chegavam a ter 18 % dos que atiram, no máximo 20%. Ou seja: de cada grupo de combate de infantaria só dois homens atiram quando se deparam com o inimigo, mesmo quando ele está correndo a dez metros de distância. Um grupo de combate tem um sargento e um cabo. Se, dos dez integrantes, dois atiram, somente o sargento e o cabo atiravam. Os soldados, não. Os recrutas não atiram, é preciso muito treinamento. Uma prova foi o que ocorreu com o Tenente Uchoa.
Com a tropa pára-quedista, o rendimento é maior, mas chegamos ao último andar dos quatro prédios dos ministérios e fizemos setecentos prisioneiros.
Quantos tiros nós demos? Nenhum. Prendemos a todos, depois de tomarmos de assalto o local. Foram colocados num andar e ficamos no outro andar, embaixo. Durante 45 dias, nós ficamos ali guarnecendo. Nós dormíamos no chão. Eles dormiam no andar de cima, também, no chão, o mesmo espaço, as mesmas condições sanitárias – nós estávamos no andar de baixo e eles sabiam que não podiam descer, eram sargentos.
Já à noite, reorganizei minha tropa. Veio uma informação rápida: acabaram de entrar num bloco de apartamentos, em uma superquadra e cortaram os pulsos da esposa de um oficial, porque queriam prender o marido. Ela foi salva pelos vizinhos. Cortaram os dois pulsos porque ela não dizia onde estava o marido. Ela também não sabia. Ele tinha saído para ir ao quartel. Ela nem sabia se ele já estava preso. Queriam o seu marido. Era um oficial do Exército, um capitão, e cortaram os pulsos dela. Fiquei com medo, porque aquilo poderia representar para a tropa uma reação maior, a partir dali. Graças a Deus não foi preciso.
Outra informação: na rodoviária de Brasília, a última passagem, a mais baixa, naquela época 1963, – a Rodoviária não estava concluída, ainda estava em obra – fora fechada pelos revoltosos. Eles fecharam de um lado e do outro. Deixaram uma porta e escreveram no muro – Paredão –e colocaram, em posição, um pelotão da tropa dos fuzileiros navais, com metralhadoras.  Iam começar o fuzilamento dos oficiais que já estavam presos.
Peguei um grupo e mandei ao comando do Tenente Valporto, para a Rodoviária. Prendemos todo o pelotão, com as metralhadoras em posição, prontas para fuzilar os oficiais.
Essa foi a minha vivência em 1964 e antes de 1964, em 1963. Prendemos o pelotão e abriu-se o inquérito. Nós até fizemos um comentário, porque o inquérito foi feito na Marinha. A maioria dos sublevados era da Marinha. Conversando com o encarregado do inquérito lhe disse:
"- Comandante, daqui a 15 dias vão estar todos de volta, como se nada tivesse ocorrido". Esses presos foram trazidos de avião, por nós, para o Rio de Janeiro. Ficaram no navio- prisão.
Há um fato que gostaria de acrescentar. Quatro ou cinco dias depois, chegou a Brasília um Batalhão do Regimento Santos Dumont. Não trazia munição. O General não tinha deixado. Passaria a integrá-lo.
O negócio estava quente, porque, ainda, estávamos fazendo a limpeza de Brasília. Informei ao Major que havia reunido toda a munição que trouxera, em uma sala no pavilhão do ministério. "- Tem suficiente?" – Perguntou.
Eu respondi:"- Tenho munição para um batalhão, por um ano!"
Na nossa corrida, com a proibição de sair armado, foi tanta gente levando munição, ao sairmos do Rio! O Barcelos - Eglair Barcelos Alves, Oficial de munições... Lembro-me que, já com todas as aeronaves "taxiando", motor ligado, ele chegou com a viatura e foi jogando os cunhetes pela porta dos aviões. Os pilotos ficaram preocupadíssimos!  Tinha muita munição! O Batalhão cumpriu a sua missão e nós retornamos para o Rio.
O Comandante do Batalhão, Major Giácomo Jannuzzi Neto, chamou-me, aqui no Rio, depois da operação e me disse:
"- Nery, você vai fazer uma relação dos militares que vão receber condecoração, por bravura, nesta operação, você faz isso?"
"- Claro, indico os homens da minha Companhia que merecem a medalha!"
Chamei o meu sargenteante e pedi que ele me desse o mapa da força – o manifesto de vôo de lançamento dos pára-quedistas - para que todos fossem incluídos, todos os militares que foram para Brasília comigo, que tomaram Brasília de assalto e que tinham consciência de que libertaram Brasília.
Entreguei ao Major Jannuzzi, Comandante do Batalhão, a relação de toda a Companhia. Ele disse:
"- O que é isso? Eu pedi para você o nome daqueles que merecem..."
Eu lhe disse: "- Major, todos nós fizemos a mesma coisa. O que um fez, o outro fez também. Todos fomos além do dever!"
Palavras dele: "- Nery, só vou indicar você, porque condecorar duzentos por ato de bravura vai desmoralizar a medalha".
Sendo assim, somente eu seria indicado. "- Major, essa eu não vou receber. O senhor me desculpe – ou concede para todos ou não me mantenha na relação!"
E, realmente, foi isso que ocorreu. Aqueles que estavam em Brasília, foram condecorados. Os Tenentes, Sargentos e Soldados pára-quedistas que, numa ação enérgica e eficaz, sufocaram um movimento revolucionário que pregava uma ampla indisciplina contra a hierarquia militar e contra a autoridade e a legitimidade do Poder Judiciário, representado pelo tribunal mais alto, que é o Supremo Tribunal Federal, não foram reconhecidos.
Essa era a situação vivida naquela época, que levou à eclosão da Revolução de 1964".
Entrevista concedida em 18 de dezembro de 2001
pelo Gen Durval Antunes Machado Pereira de Andrade Nery.
COMENTO:  concordo com meu Amigo Deboni, que me indicou este texto, que a descrição ficou  "meio enrolada" mas, não deixa de ser interessante, visto os vários episódios pontuais que, via de regra, são escamoteados do público em geral. Matérias até hoje divulgadas, carecem de profundidade e abrangência, inclusive os variados livros de autoria de militares, pecam pela falta de histórias e depoimentos como este. Contudo, fica nítida também, a visão do Oficial sobre os fatos. Em nenhum momento se detém em criticas aos "revoltosos", só enaltecendo o feito de seus comandados. Poderia, e tem subsídio, ser mais "agudo" no relato, particularmente quanto aos comandantes comprometidos com a intenção governamental da época, de transformar o Brasil em uma República Sindicalista.
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segunda-feira, 28 de março de 2011

12 Set 63 - O Levante de BRASÍLIA - I

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Precedendo mais um aniversário da Contrarrevolução de 31 de março de 1964, selecionei alguns relatos sobre uma ação pouco conhecida dos jovens de hoje, fato que bem demonstra o clima de completa anarquia que o Brasil vivenciava nos últimos tempos do governo deposto naquela data.

Um testemunho e algumas observações
por Ary dos Santos
Cel. Inf R1 - Turma de 1958
Brasília, 04.Set.2007
E-mail : santosary@uol.com.br
Corria o ano de 1963. O quadro político-social brasileiro era mais do que indefinido - era extremamente confuso. Na área militar, a situação era intranqüila pelas ações e omissões de um Governo que pouco produzia e, quando falava, somente se externava por ideais e símbolos da esquerda que arrastavam muitos incautos com idéias falsas e, como sempre, com objetivos eleitoreiros.
Em Brasília – na época já capital de direito, mas ainda não integralmente de fato - era esse o clima por volta de agosto. A única Unidade do Exército aproximadamente completa na Capital era o Batalhão da Guarda Presidencial (BGP), herdeiro histórico do “Batalhão do Imperador” e que respondia pela segurança de todo o Distrito Federal - valendo-se, para o cumprimento dessa extensiva e intensiva tarefa, do sistema de dupla-incorporação e do esforço de seus quadros para atender a todas as imposições.
No quartel ao lado, onde se erguia o Batalhão de Polícia do Exército (BPE), agrupavam-se núcleos não só daquele futuro batalhão mas também de outras Unidades que iriam, com o tempo, enriquecer o efetivo militar do DF, e um grupamento de pára-quedistas deslocados para Brasília a título de reforçar a segurança.
Na segunda quinzena de agosto, seca no auge, os oficiais do BGP, além de suas tarefas normais, foram chamados a atuar como Comandantes de frações de valor variável, inclusive dirigindo viaturas, para responder pelo patrulhamento das cidades satélites, tendo em vista que a Polícia Militar fora afastada dessa atividade em face de graves problemas ocorridos em algumas situações de conflito. Toda essa etapa de agitações, conduzidas e/ou induzidas pelos líderes locais da esquerda, concluiu-se na noite de 03 de setembro, com uma concentração na Praça 21 de Abril, na Avenida W-3.
Como vários outros colegas, participara de todas essas atividades e preparava-me para alguns dias mais calmos quando, na madrugada de 04 de setembro, recebi um telefonema de São Paulo, avisando-me ser iminente a chegada do meu primogênito. Somente graças à boa-vontade de todos – pois na época não existiam cheques especiais, cartões e nem mais do que dois vôos diários para a capital paulista - consegui, via Rio, ver meu filho, por volta das 14 horas, já com 6 horas nesse mundo.
Terminados os dias de dispensa a que fazia jus pela legislação, retornei á Brasília, pela tarde de 11 de setembro, em um vôo que, mais compatível com meus proventos, fazia duas ou três escalas. Um incidente com o aparelho deixou-me em São Jose do Rio Preto, onde a muito custo, consegui concluir, via Goiânia, o vôo para o DF, aonde cheguei, já à noite.
Depois de um banho reconfortante e de algumas providências para o dia seguinte, preparava-me para dormir, por volta das 22:30 horas, quando batidas na porta do quarto trouxeram-me, abruptamente, de volta á realidade profissional. Era o Sgt. Borges, profissional exemplar e antigo, que estava na função de Adjunto do Oficial-de-dia, avisando que havia estourado uma sublevação de militares de outras Forças e talvez o nosso quartel fosse um alvo.
Aprontei-me de imediato enquanto formulava algumas hipóteses. O fato é que, pelo cansaço e pelo envolvimento e emoção inerentes ao nascimento de um filho, não me aprofundara no noticiário dos últimos dias e mal soubera da cassação do mandato, pelo Judiciário, de um Sargento eleito deputado federal. Veio-me à mente, em primeiro lugar, a segurança dos integrantes do batalhão, dos quais cerca de 1200 soldados “granadeiros”, que estavam, naquele horário, em merecido repouso, e também das instalações - naquela época, um quadrilátero totalmente permeável a uma ação dos sublevados e apenas com uma sentinela em cada um dos seus vértices.
Não havia tempo para consultar alguém e nem conhecia a extensão e a gravidade dos fatos - e só depois de algumas horas ficaria sabendo que apenas mais três oficiais estavam no Quartel, um deles o oficial-de-dia. Mas, éramos oficiais (e sargentos que foram se incorporando ás atividades) e, como não há Exércitos distintos, assim agimos, como por certo agiriam, hoje, os oficiais e sargentos - respeitando os valores da disciplina, da hierarquia e, sobretudo, da lealdade, que têm sido cultuados como orientadores da ação permanente da Força.
Saindo do meu alojamento, decidi levar três soldados e um Cabo (Veloso) para simplesmente dobrar os postos existentes - o que efetuei em poucos minutos. Retornando à minha Companhia (2ª Cia. de Fuzileiros) encontrei-me com o Cap. Francisco José Schimidlin de Castro e, após uma rápida troca de idéias, tomamos duas providências :
- ele, como responsável pelo setor de transportes, acionou todas as viaturas e as reuniu no pátio interno do Quartel, aumentando a segurança do precioso material e, ao mesmo tempo, deixando-o em condições de pronta utilização quando necessário;
- da minha parte, mandei “tocar alarme e preparar” (basicamente acordar, colocar o uniforme e se armar) a 2ª Cia. de Fuzileiros, verificando os sargentos que estavam presentes para comandar os pelotões e, em seguida, tomei a mesma providência quanto à 4ª Cia. de Fuzileiros. Saberíamos mais tarde que toda essa agitação – viaturas e pessoal - foi determinante para que os rebelados, que já se achavam no fundo do quartel, relutassem em tentar conquistá-lo.
Informado da presença do Maj. Hernani de Azevedo Henning, oficial do Estado-Maior do batalhão, no Pavilhão de Comando, fui ao seu encontro, ocasião em que, com sua calma e eficiência habituais, me informou da presença muito provável de rebelados na área do fundo do Quartel. Rapidamente lhe dei conta que reforçara os dois postos no fundo do quartel e, agora em desabalada carreira, retornei aos dois locais onde, para minha tranqüilidade, encontrei os homens sãos, salvos e a postos, como determinado, e providenciei para que permanecessem mais próximos do aquartelamento. O cabo Veloso, a quem eu dera uma área para se instalar, decidira recuar um pouco mais, obedecendo a instrução militar recebida de fugir à claridade da lua - o célebre “ver sem ser visto”. Em toda minha vida profissional poucas vezes uma instrução teve um efeito tão importante....
Como combinara com o Maj. Henning, determinei que a 4ª Cia. se desdobrasse nos fundos (lateral oeste) do Quartel com ordens taxativas de prender e, se necessário, atirar em quem se aproximasse. Nesse desdobramento e em operações futuras destaco a atuação do Sgt Barros, daquela subunidade, pelo pronto atendimento às determinações e pela transmissão de confiança aos jovens soldados. O mesmo procedimento foi adotado em relação à 2ª Cia., que foi desdobrada na lateral Norte do batalhão - então um espesso cerrado e onde, muitos anos mais tarde, eu estaria me instalando como E-3, no aquartelamento da 3ª Bda Inf, e onde, antes de passar para a Reserva, seria Subchefe e Chefe de importante seção do Gabinete do Ministro do Exército. Coincidências... Mas valem ser relembradas, pois, durante todos esses anos, mudaram minhas atividades, mas permaneceram, porém – ativos ou latentes -, os mesmos problemas que, com nuances diferentes, atormentam o Brasil, até os dias atuais, mantendo-se o Exército voltado sempre para suas missões constitucionais.
Enquanto diversos oficiais e sargentos chegavam ao BGP, no quartel da PE, o seu Cmt e alguns oficiais resolveram, por desconhecerem a situação, entrar pelos fundos do quartel. Foram, então, presos pelos revoltosos e conduzidos à Base Aérea de Brasília, local controlado pelos revoltosos e cárcere dos oficiais. Dois tenentes da PE, entretanto, Haraldo de Oliveira (Turma de 1957) e Eduardo de Oliveira Fonseca (Turma de 1958), entraram normalmente no seu quartel e, horas mais tarde, conforme depoimento verbal feito a mim, organizaram um destacamento e se dirigiram para o DTUI (Departamento de Telefones Urbanos e Interurbanos) – equivalente a uma central telefônica do DF, situada na Asa Sul, quadras 400, até então em poder dos amotinados.
De fato, durante a noite e parte da madrugada, os quadros sublevados da Marinha e da Aeronáutica passaram a controlar não só esse órgão como também assumiram prédios militares na Esplanada dos Ministérios, além de se instalarem com farto armamento nos fundos dos já citados quartéis do Exercito. Os dois tenentes reassumiram o DTUI, de forma vigorosa e até um pouco fora dos padrões habituais, chegando a perseguir alguns militares amotinados que debandaram em correria pelas quadras. Em situações excepcionais, impõem-se iniciativa do Cmt e também medidas excepcionais.
Na área dos quartéis, lenta e seguramente, alargou-se o cerco defensivo das duas companhias em torno do BGP objetivando garantir a inviolabilidade do mesmo. O Cmt do BGP, Cel. Raymundo Netto Corrêa, deslocou-se para a esplanada, assumindo, no prédio do Ministério do Exército, o Comando da 11ª Região Militar, tendo em vista que o seu comandante – Gen. Fico – encontrava-se fora da guarnição. Com ele seguiu, entre outros, o Ten. André Leite Pereira Filho (Turma de 1959), com um efetivo de soldados granadeiros para reforçar a guarda daquele ministério. Quando esse pelotão preparava-se para formar o perímetro de segurança do Ministério, três ou quatro amotinados que controlavam o vizinho Ministério da Marinha investiram atirando contra o mesmo. Naturalmente, os soldados, em seu inesperado “batismo de fogo”, se protegeram, aguardando ordens, enquanto o Ten. André tomou a posição deitado e, depois de concluir a montagem da metralhadora Madsen que estava próxima, passou a atirar contra os atacantes. Com o passar dos segundos, refeitos da surpresa, os soldados da guarda e outros do reforço recém-chegado também reforçaram o fogo, obrigando os atacantes a refluírem para o seu prédio com algumas baixas.
O Sub-Cmt do BGP, Cel. Inf Antonio Barbosa de Paula Serra, assumiu o comando operacional do BGP e, já garantida a segurança física do aquartelamento, organizou a coluna motorizada constituída por caminhões militares e ônibus civis transportando o maior efetivo possível do BGP, tendo á frente, em posição para eventual tiro horizontal, os canhões da Bateria Independente de Artilharia, para a ação de limpeza final na Base Aérea e na Área Alfa (Marinha).
Quando iniciamos o deslocamento, cerca de 09:00 horas, no pátio do BPE, a tropa pára-quedista ali aquartelada fazia treinamentos para “controle de tumultos” (não havendo, entretanto seu emprego pratico nas ações). A tropa dirigiu-se, na direção Sul, pelo EPIA (Eixo Principal de Indústria e Abastecimento) - via que praticamente faz parte da ligação do Sul com o Norte e Nordeste do Brasil -, fixando seu Cmt, como primeiro objetivo, a liberação da Base Aérea. Para isso determinou-me que, com um pelotão, cumprisse uma proteção do flanco da tropa, na Rodovia 040/020, próximo ao cruzamento com a avenida que, dali, se destina à região do Aeroporto.
Estabeleci as medidas necessárias, face ao controle dos passageiros dos veículos, e a uma possível ação por parte dos revoltosos, vindos do sul, pela mesma rodovia. Foram tomadas todas as medidas para tal, embora o efetivo fosse um tanto reduzido e a missão envolvesse atividades de controle policial e, simultaneamente, atividades de combate, pois deveria ficar em condições de um embate com eventuais grupos de amotinados oriundos da área Alfa. Isso incluía, principalmente, o posicionamento das metralhadoras e a “amarração” (fixação dentro de certos limites) do seu tiro, evitando que um eventual tiro livre atingisse pessoas não envolvidas no conflito.
Na Base Aérea, foram libertados os oficiais presos, os quais, ainda conforme relatos verbais, “deveriam aderir ao movimento em 24 horas ou serem executados” - justiça almejada pelos líderes esquerdistas como padrão para o Pais o que, de certa maneira, se repete até os dias atuais. Durante essa fase, o Cel. Serra, reavaliando a minha missão inicial, e conhecedor de outros dados sobre o efetivo da Área Alfa (objetivo 2), houve por bem, enviar para meu auxílio, sucessivamente, os pelotões comandados pelos Ten. Fernando Cardoso (Turma de 1959) e Ten. Augusto César Monteiro Teixeira Coimbra (Turma de 1960). Com mais dois pelotões a meu comando pude, realmente, rearticular melhor o dispositivo, pois o eventual embate com tropas de amotinados vindas em sentido contrário seria uma hipótese bastante desconfortável para um pelotão apenas. A missão prosseguiu com os incidentes normais, como a detenção temporária de duas pessoas – um civil e um militar -, mas sem maiores problemas, durando três horas até o retorno do grupamento do Cel. Serra.
Reiniciado o deslocamento, atingimos a pista de acesso à Área Alfa (Marinha), onde, pela madrugada, um modesto estafeta motorizado de uma empresa fora metralhado pela guarda dos amotinados. O reconhecimento efetuado indicou que os integrantes daquela corporação estavam em forma, desarmados, comandados por um Sub-Oficial, aguardando a chegada do comboio para se renderem. Feito o contato, aproximadamente 200 amotinados, no decorrer do final da tarde, foram enviados presos para o Ministério do Exército onde permaneceram detidos para as conseqüentes averiguações legais.
Executamos o reconhecimento da área do aquartelamento, que deixou claro o saque efetivado contra um depósito de armamento, e a guarnecemos para o nosso pernoite. Finalmente, por volta das 20:30 horas, consumimos a primeira refeição daquele dia que fora memorável em todos os sentidos. Não deve ser esquecido que, nessa segunda parte do deslocamento, em clara demonstração de amor à sua Força, incorporaram-se ao nosso grupamento, em trajes civis, com suas armas pessoais e um carro particular, quatro oficiais daquela base da Marinha, em estreita e útil cooperação com o desenvolvimento do nosso trabalho.
Em menos de 24 horas, o Exército, basicamente representado pelo BGP dera uma brilhante demonstração de Disciplina, Eficiência e Lealdade, sob os exemplos de seus Comandantes – Cel. Raymundo e Cel. Serra – e com a dedicação de vários oficiais e sargentos que, em conjunto e mesmo em ações isoladas, expuseram suas vidas. Foi particularmente o BGP a única Unidade constituída a debelar o movimento sedicioso, com a participação de frações da Bateria Independente e da PE. Outras unidades e efetivos poderão ter contribuído, a posteriori, nas atividades de rescaldo das operações, mas a repressão foi totalmente conduzida pelo citado batalhão.
Outros oficiais, sargentos e praças do BGP tiveram suas participações efetivas e, com certeza, tão ou mais importantes, mas não temos conhecimento suficiente dos fatos para agregá-los a esse testemunho. Deve ser ressaltado, entretanto, que mesmo agindo isoladamente, a atitude e a atividade desses profissionais convergiam para um ponto único final, em face da existência, na formação dos profissionais da guerra, do princípio fundamental da “Unidade de Doutrina”. No decorrer das operações, como é cabalmente demonstrado no texto, as condições permitiram que aflorasse outro princípio básico que é o da “Unidade de Comando”, que surge na atuação do Cel Raymundo, Cmt do BGP, ao assumir o Comando Militar do Planalto e, do Cel Serra, Sub-Cmt do BGP, ao assumir o Comando Operacional das ações.
Encerramos esta síntese, para compartilhar com os leitores algumas observações referentes aos fatos citados e muito pertinentes, considerando-se a atual conjuntura brasileira.
A primeira delas é de que o BGP deu uma vigorosa demonstração do seu preparo e, como Unidade de Infantaria, da real liderança de seus oficiais sobre suas frações, acompanhados com dedicação profissional pela maioria maciça de seus sargentos. Daí julgarmos mais justo titular o infeliz evento gerado pela esquerda de “Levante de Brasília” e não de outro nome que, mesmo genericamente, pudesse ligá-lo à classe dos sargentos - o que seria uma afronta a aqueles profissionais que, particularmente no âmbito do BGP, demonstraram a excelência de seus papéis, exercidos na plenitude do amor à Instituição.
Quanto aos soldados, em sua maioria do interior de São Paulo, imbuídos dos sentimentos de brasilidade e de respeito às autoridades, participaram, como militares e como verdadeiros cidadãos, dessa página brilhante da Historia Militar, confirmando assim o conhecido dito do Gen. Osório de queé fácil a missão de comandar homens livres; basta indicar-lhes o caminho do dever”.
Ainda hoje, temos o prazer de vez por outra, nos contatarmos com alguns deles e, nessas oportunidades, sempre aflora o orgulho natural de termos cumprido a missão que se impunha. Jovens ainda, com 19 ou 20 anos, já haviam atendido ao primeiro chamado legal da Pátria quando se incorporaram a um Quartel, no ainda desconhecido Centro-Oeste, longe do conforto de suas residências e da companhia de seus familiares e, no evento narrado, cumpriram, na prática, com o único juramento profissional que impõe como limite máximo o sacrifício da própria vida ao serviço da Pátria e à defesa de sua honra, integridade e Instituições! Traçaram eles aos seus pósteros a conduta reta de que o atendimento à hierarquia, à disciplina e à lealdade são perfeitamente compatíveis com a camaradagem entre todos, independente de postos e de graduações.
Resta ainda uma dúvida: Qual a justificativa para que o Exército e, em especial, o BGP, não comemore uma data tão cara e plena de ensinamentos para todos os militares? Não se constituíram esses fatos em exemplo concreto e louvável de Lealdade, Hierarquia, Disciplina e Eficiência? Não é do conjunto de fatos como esse que se constitui a História – de uma Unidade e, em conseqüência, de todo o Exército – que se fundamenta a Tradição, valor inquestionável para uma Instituição e para uma Sociedade que desejamos forte, ampla e segura?
Reconheçamos que, à época, Brasília era ainda algo remoto, tanto na mídia quanto na mente do brasileiro, e até mesmo na de muitos colegas. Mas, se analisarmos com a clareza que o tempo aprimora, veremos que o Exército e, em especial o Batalhão da Guarda Presidencial, deixou claro, como numa espécie de avant-premiére, seis meses antes do Movimento de 64, qual a posição a ser tomada, em relação à tentativas de qualquer ideologia totalitária que tentasse se impor no Brasil.
E, como “não há Exércitos distintos” e, “ao longo da História, temos sido sempre o mesmo Exército de Caxias, referência em termos de ética e de moral, alinhado com os legítimos anseios da sociedade brasileira”, em que pesem as dificuldades eventuais, temos a tranqüilidade necessária para acompanhar e, se necessário, até mesmo participar do desenrolar da História, dentro do quadro da contínua cooperação do nosso Exército que, após 1985, sob a alegação de ser o “Grande Mudo”, vinha correndo o risco de transformar-se no “Pequeno Omisso”.
Fonte:  Infomix
COMENTO: pretendo mostrar outros relatos que demonstram até mesmo a falta de comunicação entre os militares que participaram da repressão a esse movimento revoltoso. São visões que demonstram desconhecimento da situação caótica vivida pelo país, talvez por estarem os militares da época, assim como os de hoje, voltados para suas atividades profissionais, sem nem mesmo se envolverem em assuntos que não lhes diziam respeito. Só não foram aniquilados pelos traidores da Pátria devido ao excelente preparo profissional castrense. E como escreveu o autor: "não há Exércitos distintos".  Os bons profissionais de hoje, como os de ontem, continuam mudos, mas não omissos!
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