segunda-feira, 14 de junho de 2010

Operação Maestria ou Camaleão - Outro Golpe Contra a Narcoguerrilha Colombiana

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Exitosa ação do Exército acabou com 12 anos de cativeiro de um General, dois Coronéis e um Sargento que estavam em poder das FARC. Murillo e Delgado tinham correntes de três metros em seus pescoços.
"Somos Exército, somos Exército! Viemos por vocês". Com esses gritos deram entrada no acampamento das FARC os homens das Forças Especiais que, em uma arriscada operação, somente comparável à 'Operação Xeque', resgataram três dos quatro sequestrados que permaneciam em poder das FARC há mais de 12 anos.
O General Luis Mendieta, o Coronel Luis Enrique Murillo e o Sargento Arbey Argote Delgado foram os primeiros resgatados pelos soldados em uma operação que o Ministro da Defesa, Gabriel Silva, descreveu como "cirúrgica", pois - assegurou - não deixou um morto sequer.
O Coronel William Donato - o quarto sequestrado - foi encontrado mais tarde, na espessa selva onde estava o acampamento no qual as FARC os mantinham, a 48 quilômetros de Calamar (Guaviare).
Passava das 12:30h, quando desde Chocó, o Presidente Álvaro Uribe deu a boa noticia ao país: "Nossas Forças Militares resgataram ao senhor General Mendieta e ao senhor Coronel Murillo".
A operação, que foi dirigida pelo próprio Comandante das Forças Militares, General Freddy Padilla, começou a concretizar-se em 12 de março, quando a Força de Tarefa Omega, após um combate com as FARC, capturou 'Marcos Parrilla', um guerrilheiro da primeira frente (quadrilha).
"Depois que o encontramos, o homem decidiu desmobilizar-se e nos deu a localização exata da zona por onde circulavam com os sequestrados. Nesse momento começamos a concretizar a operação de resgate", explicou o General Padilla a El Tiempo.
Depois de analisar a informação, um Grupo de Inteligência do Exército começou a seguir os movimentos do bando. Há 20 dias, o General Óscar González, Comandante do Exército, e o General Padilla escolheram os homens que iriam dar o golpe. Na quinta-feira passada receberam a 'luz verde' do Presidente Uribe.
O domingo, 13, foi escolhido como o dia 'D', tendo em conta que os 40 guerrilheiros que custodiavam os sequestrados estariam "relaxados" por ser um momento da semana usualmente dedicado a organizar assuntos logísticos, como lavar a roupa.
Com 300 homens
Na sexta-feira, os 300 homens que participaram na operação, assim como as aeronaves da Aviação do Exército, se concentraram no Batalhão Joaquín Paris, em San José del Guaviare.
Durante horas repassaram uma e outra vez o ingresso na zona, que é de selva fechada, e considerando as condições do clima, fixaram como 'hora zero' a 1:00 da madrugada deste domingo.
Os aviões de Inteligência da Força Aérea fizeram um primeiro reconhecimento e pelas 2:00 da madrugada desceram os primeiros homens por 'sogas rápidas' ("rapel") desde os helicópteros Black-Hawk. Este foi o grupo encarregado de estabelecer o cerco de segurança.
Com a zona controlada, às 10:00 da manhã saem de San José os demais helicópteros e pelas 11:30, as Forças Especiais do Exército entram no acampamento. A essa hora se iniciam os combates, ante a resposta das FARC. Tudo ocorreu a somente 28 quilômetros de onde foi executada a 'Operação Xeque'.
Antes de entrar em ação, um dos homens das Forças Especiais já se havia encarregado de localizar o General Mendieta, que estava perto do Coronel Murillo.
De imediato foram retirados da zona por um cordão de segurança de 30 "Comandos", enquanto os outros tentavam achar o Coronel Donato e o Sargento Delgado.
Às 12:35, o Comandante da Unidade comunicou por radio ao General Padilla que Mendieta e Murillo estavam em seu poder. "Já os temos meu General. Conseguimos!" disse. Padilla estava no posto de comando em San José del Guaviare.
Uma intensa busca
Apesar da boa noticia, a preocupação pelo paradeiro dos outros dois reféns marcou o ponto mais alto de tensão. Cinco horas mais tarde, as tropas encontraram o Sargento Arbey Delgado escondido no lamaçal, ele disse que Donato estava vivo, porém haviam se separado para aumentar as possibilidades de fuga.
O general Padilla confirmou a este diário que tanto Murillo como Delgado estão com correntes amarradas a seus pescoços e até a noite de domingo não havia sido possível retirá-las, já que os soldados não tinham ferramentas apropriadas para isso em suas equipagens.
"Há mais de três metros de corrente e um cadeado que as prende", disse o General.
O Ministro da Defesa confirmou que pelas condições do terreno, não foi possível tirar os resgatados da zona. "Estão em bom estado de saúde e protegidos por 300 homens", afirmou.
Na noite de domingo, o Comandante do Exército verificava as condições para a evacuação dos militares, hoje (14) à primeira hora.
Os militares Delgado e Donato contaram que quando se deram conta do assalto ao acampamento, sua primeira reação foi fugir. Andaram uns três quilômetros, buscando o leito do rio Inírida, porém quando escutaram o ruido dos helicópteros decidiram que era melhor voltar para o sitio. No meio da escuridão, se separaram pela primeira vez em anos.
Delgado apresentou-se à tropa pelas cinco da tarde de ontem, depois de estar plenamente convencido de que não se tratava de seus captores. Donato seguiu andando e finalmente decidiu esconder-se até à madrugada de hoje. As luzes de sinalização lhe indicaram o local para onde devia dirigir-se. Assim, reencontrou o caminho para a liberdade.
"Os homens de Inteligência chamaram a operação de 'Maestría' e os das Operações Especiais de 'Operação Camaleão', assim, deixo aos colombianos que a 'batizem' como quiserem", disse o General Padilla.
O Ministro da Defesa disse que havia sido uma operação com inteligência e planejamentos genuinamente colombianos. "Foi uma operação de de alta cirurgia, um ato de heroísmo", assinalou.
E, aos outros que seguem sequestrados prometeu que, se a guerrilha não os libera, a Força Pública irá buscá-los.
Inteligência, o fator diferencial
No novo golpe contra as FARC, a Inteligência do Exército voltou a desempenhar um papel chave. As Forças Especiais que foram enviadas a essa zona de Guaviare sabiam, por informação de fontes humanas, que na zona de Inírida havia um acampamento onde a guerrilha tinha sequestrados.
Militares que por anos têm trabalhado com esse único objetivo - conseguir o resgate dos reféns - analisaram a informação e a cruzaram com a de "Xeque" e as das liberações unilaterais realizadas pelas FARC. Sua conclusão foi que havia altíssimas probabilidades de resgate e por isso o Presidente ordenou prosseguir com a operação.
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Estes foram os golpes mais fortes contra as FARC
31 de dezembro de 2006
Fernando Araújo, que havia sido sequestrado pelas FARC em 4 de dezembro de 2000, nas praias de Bocagrande, em Cartagena, aproveita uma operação das Forças Armadas para fugir de seus captores. Pela manhã ouve o ruido provocado pelos helicópteros do Exército e, no meio da confusão, se afasta dos dois guerrilheiros que o vigiavam para empreender a fuga.
Durante cinco dias caminha por uma zona agreste dos Montes de María (Bolívar) até que se encontra com um camponês, que o leva a uma base militar do departamento.
2 de setembro de 2007
O chefe guerrilheiro Tomás Medina Caracas, vulgo 'Negro Acácio', é morto em meio a um ataque das Forças Especiais e da Força Aérea, que bombardeia e ocupa seu acampamento em uma zona selvática de Guaviare. Ali morrem 18 guerrilheiros mais e é preso o traficante brasileiro 'Fernandinho da Beira-Mar'.
24 de outubro de 2007
Uma operação de Inteligência da Armada permite localizar o acampamento de Milton Sierra Gómez, vulgo 'JJ' o chefe da frente 'Iván Cepeda Vargas' das FARC e sequestrador dos 11 deputados de Valle. O chefe subversivo morreu no meio do bombardeio da FAC. Este homem estava pedido para extradição e as autoridades o responsabilizavam por mais de 300 mortes.
Na mesma data, morre em combate Gustavo Rueda Díaz, vulgo 'Martín Caballero', um dos chefes do bloco Caribe das FARC, após um ataque das Forças Militares nos Montes de María. Os militares localizaram seu acampamento perto de Carmen de Bolívar e o atacaram. Foi esse guerrilheiro que manteve sequestrado, durante seis anos, a Fernando Araújo.
1º de março de 2008
Luis Édgar Devia, vulgo 'Raúl Reyes', porta-voz internacional das FARC e membro do secretariado, cai morto em primeiro de março de 2008, no meio do bombardeio a um acampamento que estava em território equatoriano.
2 de julho de 2008
Em um cinematográfico golpe nas selvas de Guaviare, o Exército Nacional arrebata das FARC a 15 dos sequestrados do intercâmbio humanitário, entre eles a ex candidata presidencial Íngrid Betancourt e os estadounidenses Keith Stansell, Marc Gonsalves e Thomas Howes. Também são resgatados onze policiais e militares.
Na chamada 'Operação Xeque', planejada pelas Forças Militares colombianas, participaram 13 pessoas: quatro tripulantes do helicóptero, cinco supostos delegados da missão humanitária, um médico, um enfermeiro e uma falsa equipe jornalística integrada por cinegrafista e jornalista. Não se produz nem um só disparo. Foi um golpe tão contundente que se converteu em uma referencia dentro dos resgates exitosos para as forças de segurança do mundo. Foram capturados dois chefes guerrilheiros, entre eles, 'César', que foi extraditado.
29 de outubro de 2008
Em um arrozal e fazendo-se passar por camponês, o chefe nacional de milicias das FARC, Jesús Marbel Zamora, vulgo 'Chucho', é recapturado pelas tropas da Brigada Movel 17, entre Purificación e Coyaima (Tolima). Tinha se convertido en um dos homens fortes de 'Mono Jojoy' após sair da prisão La Picota, por conclusão de prisão preventiva, em julho de 2001.
Ele substituiu Carlos Antonio Lozada na direção das milícias bolivarianas, quando este foi sancionado por ter perdido seu computador portátil no meio da operação da FUDRA contra seu acampamento, na zona de Guayabero (Meta).
'Chucho' foi um dos fundadores das milicias bolivarianas em Bogotá e estreou com a tomada da estação Kennedy, no sul da cidade, em 1996.
27 de fevereiro de 2009
Como parte de uma operação em Sumapaz, foi capturado 'El Negro Antonio', o principal sequestrador das FARC. O último grande golpe antes da operação 'Camaleón' foi a morte de 'Édgar Tovar', na fronteira com Equador, em janeiro passado.
Fonte: tradução livre do jornal El Tiempo
COMENTO: mais uma mostra do que é capaz uma força militar aguerrida e bem adestrada, que age de forma planejada, com base nos conhecimentos de sua Inteligência. Só é de lamentar que nessa operação bem sucedida não tenham mandado mais alguns "cumpanhêrus guerrilhêru" ao encontro de "Edgar Tovar", "Tiro Fijo" e Raul Reyes!
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