sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

Uma Pátria de Meias e Patacas

por Petrônio Souza Gonçalves
O Brasil é mesmo a pátria do panetone. Tudo aqui é festivo, ocasional, furtivo. Nossos protestos menores, nossas mágoas maiores. Tudo dura até o próximo verão, a próxima semana. Nunca, mais que as próximas eleições. Para conferir isso, basta lembrar que depois de renunciar ao mandato de senador, por ter violado o painel eletrônico do Senado, o intrépido José Roberto Arruda foi promovido — talvez pela evidência do pequeno delito — a governador de Brasília.
Na época de violador da democracia, ele foi achincalhado. Algumas eleições depois, condecorado, promovido, absolvido pelo próprio povo. Como no celebre poema de Augusto dos Anjos, “a mão que afaga, é a mesma que apedreja”. Isso é o Brasil, esta é a nossa tosca democracia, sustentada por um provincianismo primário, filha bastarda de nossa servil consciência cívica.
República de meias e patacas, de cuecões e gravatas, não vimos o amadurecimento dos caras pintadas, que guardaram suas fantasias após o primeiro carnaval. Tudo aqui é assim, teatral, banal, nunca original, como se o país fosse um eterno baile de carnaval. Para o movimento estudantil e os congressos universitários, os eternos piqueniques ideológicos, exercendo sua cota de democracia com a eleição desse ou daquele presidente da UNE, tão comprometido quanto alienado. Os protestos não são para mudar o país, para mudar nossa sociedade, mas sim para mudar a visão e o conceito que as pessoas têm sobre cada um de nós. Como somos desprovidos de civismo. Como pagamos caro por nossa tola e inocente consciência política.
Isso justifica nossa representação popular, desfilando seus fantasmas em plena luz do dia. Como podemos pensar em um novo país, em um Brasil melhor, tendo um congresso composto por homens do quilate de Paulo Maluf, de José Genoino, Jader Barbalho, Antônio Palocci, Fernando Collor, entre tantos outros, durante tantos anos de desmandos e prevaricações. Essa é a pátria dos mensalões e dos mensalinhos, uma nação bem mensalina, bem sem vergonha, que troca seu futuro, o seu voto, por uma cesta básica, por uma ajudinha. É o corrompido corrompendo o corruptor, coisas do nosso amado Brasil!
Sabendo bem como se faz greves e como se organiza protestos, o Brasil de Lula é um Brasil silenciado, domesticado, docilizado: dos movimentos sindicais à militância partidária, dos movimentos estudantis às Organizações Não Governamentais. Todos, por certo, registrando seu mensalão ideológico, sua verbinha providencial. É no Brasil da impunidade que a corrupção viceja, é no Brasil da passividade que os escândalos se repetem. Lamentavelmente!
A nossa democracia, o nosso parlamento, é mesmo uma festa à fantasia. ... Cada um interpretando um personagem, cada um nos aplicando uma trágica peça. Tem o que ama, o que protesta, o que ri. Tem também o mau e o cara de pau. E, no final, todos se banqueteiam e se coçam, em uma mesma festa.
é jornalista e escritor
Fonte: Coluna do Claudio Humberto
COMENTO: e como parte dessa imensa pantomima, os grandes meios de comunicação dependentes das verbas federais chegam a causar náuseas em seus noticiários, dando destaque a algumas pessoas que invadiram a Casa do Espanto (Câmara Legislativa brasiliense, que espanta por seus enormes gastos em troca de imensa inutilidade) — danificando bens públicos com a conivência dos "seguranças" — para se "manifestarem" pela interdição do mandato do governador distribuidor de panetones, e repetindo os vergonhosos vídeos mostrando a patifaria. É claro, na "manifestação popular" não faltaram bandeirolas do PSTU, PCdoB, PSol, CUT nem camisetas com a cara do porco argentino-cubano Ernesto Guevara. Enquanto ocupam a sede legislativa, esses manifestantes dão motivo a que se adie o início do processo de impedimento do governador pego com a mão na botija, ao mesmo tempo em que sua exposição na mídia ocupa o espaço que, não havendo o escândalo, seria destinado à discussão de temas como as causas do "apagão"; o uso imoral do avião da FAB por Lulinha e seus amigos; os trambiques catarinenses do genro presidencial; as contas ainda não fechadas do Pan-2007; o "caso" do "menino do MEP"; o subsídio à divulgação do "Filho do Barril"; os crescentes gastos com cartão corporativo; o "mico Zé Laia" e tantos outros assuntos que não são de interesse "dazisquerda". Gostaria de saber onde andavam esses indignados cidadãos, por ocasião da divulgação do "mensalão" e recomendaria a utilização de suas indignadas energias para uma manifestação frente à Casa da Mãe Joana (Congresso Nacional), em prol da votação das leis favorecendo os aposentados, em prol da CPI do MST, em prol da solução aos antigos funcionários da VARIG, e tantos outros assuntos pendentes.

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