terça-feira, 16 de junho de 2009

A Nostalgia ou a Utopia das Ossadas?

Gen Aloísio Rodrigues dos Santos
Ao ler o artigo A Nostalgia das Ossadas, (ver próxima postagem, acima) de autoria do falecido Ministro Roberto Campos, reproduzido neste site no dia seis deste mês, lembrei-me de já tê-lo lido na década de 90, talvez na “Folha”, talvez no “Estadão”, ou no “O Globo”. Um script perfeito. Um assunto ainda momentâneo, nunca contestado, nunca criticado, nunca desmentido, nem por seus adversários, nem por seus inimigos. Sem dúvida um gigante no contraditório, que impunha o silêncio e atemorizava os oponentes. Julgo poder associá-los — o autor, o assunto e o artigo — a um episódio da nossa história, quando jovens foram seduzidos por profissionais inescrupulosos do “terrorismo e da subversão” ... essa é a história de muitos desses jovens.
No decorrer da década de 60, início dos anos 70, significativo número de militantes do PCdoB, a grande maioria jovens, muito jovens, foram recrutados, preparados e encaminhados para a China Comunista, onde, na Academia Militar de Pequim, realizaram cursos de guerrilha rural. 
O PCdoB por sua vez, caudatário do Partido Comunista Chinês, dele recebia apoio político, orientação ideológica e recursos financeiros. O partido se preparava para definir a área rural onde desencadearia a guerra de guerrilha, para se transformar progressivamente, como previsto nos seus manuais e nos manuais chineses, em um “Exército Popular de Libertação” e conquistar o poder.
A partir do estudo de áreas geográficas propícias ao desencadeamento da guerrilha no Brasil, definiu-se, na década de 60, por uma região balizada pelo rio Araguaia, no sudeste do Pará, com os seus primeiros militantes, exceto os precursores da área, lá desembarcando no Natal de 1967, conduzidos por dirigentes do partido.
Descoberta a área no início de 1972, os combates de encontro se encerraram em 1974, com mortos, feridos e desaparecidos de ambos os lados. Nós enterramos os nossos mortos, tratamos os nossos feridos e procuramos, a exaustão, o nosso desaparecido. Infelizmente não o encontramos. O PCdoB, por sua vez, acredito que tenha tomado medidas semelhantes, até mesmo em respeito aos familiares dos mortos, feridos e desaparecidos, dispensando aos seus militantes os mesmos cuidados e tratamentos que dispensamos aos nossos militares, levando-se em consideração as dificuldades e as possibilidades de cada uma das partes. Se não o fez, ou se pelo menos não tentou, isso é ...
Por essas razões, significativas na sua essência, e por outras que serão explicitadas a seguir no próximo parágrafo, julgo que o foco da questão dos desaparecidos políticos do Araguaia deve ser deslocado para o PCdoB. Esta organização foi a única responsável pelo aliciamento desses jovens militantes, sempre considerados como meros instrumentos de “trabalho”, enquanto que a maioria dos seus dirigentes, com poucas exceções, permaneceu em áreas urbanas e outros viajavam, constantemente, para o exterior com todas as despesas pagas, mesmo durante a realização de congressos, período em que a segurança era mais vulnerável e que as “quedas ocorriam com maior frequência”, mas todos recebendo regiamente os seus “salários”.
Finalizando, destaco o seguinte parágrafo de um texto de minha autoria, ao qual dei o título “Utopia das Ossadas”, onde explicito as responsabilidades do partido para com os seus militantes. “A guerrilha só se instalou porque os velhos caciques do partido na época, verdadeiros profissionais do terrorismo e da subversão, financiados inicialmente pela China e posteriormente pela miserável Albânia, não hesitaram em instruir, doutrinar e recrutar jovens para o Araguaia. Retirou-os do seio de suas famílias; colocou armas em suas mãos; levou-os à clandestinidade; selecionou os mais aptos ideologicamente e fisicamente; convenceu-os a realizar uma relevante tarefa para o partido em uma região afastada, inóspita e insalubre; fanatizou-os e induziu-os a resistir até a morte. Não é por acaso, ou mera coincidência, que os sobreviventes da guerrilha, os que foram presos e os que, pacificamente, se entregaram, abandonaram o PCdoB e militam no PT desde a sua criação”.
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