Nas dependências do Congresso, a lama que escorre das decisões administrativas tomadas à sombra contrasta com a limpeza do carpete.
Aspirado todas as noites, o chão do Legislativo, de tão limpo, exala um tédio homicida. É um piso preparado para o desfile de utópicas virtudes.
Coube ao espelho d’água que enfeita a entrada do prédio de Niemeyer oferecer à platéia uma cena mais condizente com o que se passa do lado de dentro.
Na foto acima, captada pelas lentes do repórter Lula Marques, a imagem do Congresso é refletida sobre um espelho sujo, em que se misturam algas, espuma e lodo.

As algas tem a aparência de buchas. A espuma esbranquiçada evoca o sabão. O lodo, boiando nas águas abúlicas de uma Brasília rendida à pasmaceira do final de semana, grita para ser removido.
Ao longe, ouve-se o silêncio da inação.