terça-feira, 14 de abril de 2009

DEPOIMENTO — Raposa: "Fraude do Começo ao Fim"

por Ana Prudente
Como a maioria dos amigos sabem, fui Comissária de bordo da VASP durante treze anos (76/89).
Eu era novinha na empresa e sem ter a data precisa, creio que os fretamentos que irei abordar ocorreram entre 1976 e 1978. Fui escalada para realizar pelo menos três destes fretamentos, em que saíamos de São Paulo por volta das 20h em direção a Porto Alegre.
Falarei apenas sobre minha primeira experiência nestes fretamentos, na época sob o governo militar. Ninguém informava nada, apenas seguíamos nossa escala de voo. Quero falar desta primeira experiência, pois foi algo que me marcou e até hoje jamais esqueci daqueles olhos assustados, que nos olhavam como se pedissem socorro em tempo integral.
Pousando em Porto Alegre, nem saíamos do avião. Ônibus encostavam no pátio de estacionamento e então as famílias começavam a subir as escadas. Todos eles colonos, descendentes de alemães e italianos, tirados lá do meião e fronteiras do RS, cumpriam as ordens do governo, até porque sob a promessa de receberem terras oficialmente, aceitaram ir para algum lugar em seu pais, que eles nem imaginavam onde seria isso.
MAS ELES ENTENDIAM TUDO SOBRE A TERRA, O PLANTIO E A COLHEITA E AQUELES COLONOS SABIAM QUE PARA TER AS TERRAS TITULADAS EM SEUS NOMES, SÓ TINHAM UMA OBRIGAÇÃO: fazer a única coisa que sabiam fazer: plantar e colher.
Os governos militares, e só hoje sei disso, incentivaram por demais o povoamento das fronteiras ao norte do Brasil, região até ali praticamente abandonada. E aqueles colonos, que já tinham viajado durante mais de 40 horas por estradas restritas dentro do RS, ao desembarcar no aeroporto de Boa Vista, ainda enfrentariam mais 50 horas corridas de ônibus para chegarem ao seu destino.
Eu só soube disso depois e que fique registrado. Levei dois fretamentos para Roraima e um para Rondônia. Mas muitos outros ocorreram, aos quais eu não estava escalada.
Aqueles colonos, brancos e em sua maioria de olhos azuis, são hoje acusados pelo presidente do Brasil de culpa pela crise econômica mundial.
Foram expulsos mais uma vez do seu pedaço de terra, aquele prometido, como se fossem bandidos. Logo eles, aqueles que levei, que atravessando o Brasil do extremo sul ao extremo norte e com escala em Brasilia para abastecimento, nem conseguiam sentar com conforto nas poltronas do avião. Chegaram de pés descalços, no máximo víamos alguns de havaianas.
Não tinham malas, não tinham roupas e nem lembranças, eles só tinham a eles mesmos. Eles eram desconfiados, tinham medo de tudo o que lhes era desconhecido e aprendi que tínhamos de nos movimentar muito devagar pelos corredores e até na aproximação.
O serviço de bordo tratou de ofertar muitas mamadeiras (sim, tínhamos muitas crianças a bordo), além de caixas de lanche extras, que deveriam ser utilizadas nas longas horas de viagem após desembarcarem das aeronaves.
Gente humilde, que saiu do local do seu nascimento em busca de segurança. Em busca do seu pedaço de terra para plantar e criar família, raízes. Não sei identificar se estes que se tornaram os grandes plantadores de arroz em Roraima fizeram parte daqueles transferidos ou são herdeiros descendentes.
Mas entendo que os governos militares acertaram em transferir quem sabia fazer acontecer para um lugar onde não havia nada. Nem luz, nem estradas, nada. Eles foram levados para um lugar tão longe da civilização que nem Deus aceitaria viver lá. Mas eles foram!
Eu estou contando esta parte do que vivi apenas para "alertar" que muitas destas pessoas foram expulsas, MAIS UMA VEZ, do chão que um dia lhes foi prometido. E também para comprovar que os gaúchos não saíram do sul "para explorar as terras do norte", como assim foi noticiado. Foi um programa de governo. Ponto!
Penso que os "brancos de olhos azuis", mais uma vez, estão sendo discriminados e se depender deste governo lula, altamente racista anti-cor-branca, continuará aniquilando tudo e todos os que forem brancos, menos os banqueiros que "bancam as reeleições" é claro!
Fonte: ViVerdeNovo
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