domingo, 22 de março de 2009

Protógenes - Herói ou Vilão??

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Tenho evitado escrever aqui sobre a Operação "Solta e agarra" do delegado Protógenes, por entender que há muitos interesses envolvidos no enredo dessa novela, e a nós, pobres mortais, só é dado conhecer pequenos detalhes que interessam a uma ou outra das partes envolvidas.
Sabemos que, teoricamente, a novela começou a "esquentar" no momento em que as investigações policiais indicaram ligações espúrias do "banqueiro bandido" Daniel Dantas com membros e ou "amigos" do atual governo. Até então, as investigações eram sobre ligações de Dantas com elementos do governo anterior e tudo estava bem.
A partir do momento em que as pistas indicavam ilícitos de "amigos" do governo, começaram a "vazar" detalhes das investigações. Os vazamentos indicavam que as investigações não estavam seguindo "métodos ortodoxos". Descobriu-se a participação de agentes da ABIN na operação.
Os políticos, sempre interessados no bem público, leia-se: oportunidade de ficar sob holofotes, não perderam a oportunidade. Uma CPI, aquele tipo de instrumento investigativo que nunca chegou a conclusão alguma, foi instaurada.
Foi apurado que as investigações policiais alcançavam muitas pessoas de destaque no mundo político, no âmbito dos três poderes da República. A documentação vazada sobre a operação dá margem a suposição de que ela extravasou seus propósitos iniciais, avançando na busca de "rabos presos" de muitas autoridades desse nosso pobre país. Os detalhes desse avanço sobre a legalidade continuam sendo vazados aos poucos, de acordo com os interesses dos "vazadores". Sobre o objetivo inicial da operação, isto é, verificar se Daniel Dantas agiu ilegalmente, não se fala mais.
Enquanto isto, os bem pagos advogados de Daniel Dantas apostam na hipótese de anulação de todo tipo de prova obtido contra seu patrão, em função das supostas ilegalidades cometidas pelo delegado Protógenes. E la nave va!
Os videos abaixo são do programa Comitê de Imprensa, da TV Câmara. Segundo o jornalista Luiz Carlos Azenha, tal programa teria sido "censurado". Não sei por quem. Na realidade os vídeos não podem ser encontrados no sitio da TV Câmara. Estou postando-os por que os entrevistados expõem algumas coisa que não tem sido divulgadas pela imprensa "normal".
Ainda não consegui formar uma idéia nítida sobre o caso, por isso evito opinar. Tire suas próprias conclusões:






ATUALIZAÇÃO:
Esta carta aberta escrita pelo repórter Leandro Fortes, da Carta Capital relata sua surpresa pela censura do Programa 
Comitê de Imprensa veinculado na TV CAMARA:
No dia 11 de março de 2009, fui convidado pelo jornalista Paulo José Cunha, da TV Câmara, para participar do programa intitulado Comitê de Imprensa, um espaço reconhecidamente plural de discussão da imprensa dentro do Congresso Nacional. A meu lado estava, também convidado, o jornalista Jailton de Carvalho, da sucursal de Brasília de O Globo. O tema do programa, naquele dia, era a reportagem da revista Veja, do fim de semana anterior, com as supostas e "aterradoras" revelações contidas no notebook apreendido pela Polícia Federal na casa do delegado Protógenes Queiroz, referentes à Operação Satiagraha. Eu, assim como Jailton, já havia participado outras vezes do Comitê de Imprensa, sempre a convite, para tratar de assuntos os mais diversos relativos ao comportamento e à rotina da imprensa em Brasília. Vale dizer que Jailton e eu somos repórteres veteranos na cobertura de assuntos de Polícia Federal, em todo o país. Razão pela qual, inclusive, o jornalista Paulo José Cunha nos convidou a participar do programa.
Nesta carta, contudo, falo somente por mim.
Durante a gravação, aliás, em ambiente muito bem humorado e de absoluta liberdade de expressão, como cabe a um encontro entre velhos amigos jornalistas, discutimos abertamente questões relativas à Operação Satiagraha, à CPI das Escutas Telefônicas Ilegais, às ações contra Protógenes Queiroz e, é claro, ao grampo telefônico – de áudio nunca revelado – envolvendo o presidente do Supremo Tribunal Federal, ministro Gilmar Mendes, e o senador Demóstenes Torres, do DEM de Goiás.
Em particular, discordei da tese de contaminação da Satiagraha por conta da participação de agentes da ABIN e citei o fato de estar sendo processado por Gilmar Mendes por ter denunciado, nas páginas da revista CartaCapital, os muitos negócios nebulosos que envolvem o Instituto Brasiliense de Direito Público (IDP), de propriedade do ministro, farto de contratos sem licitação firmados com órgãos públicos e construído com recursos do Banco do Brasil sobre um terreno comprado ao governo do Distrito Federal, à época do governador Joaquim Roriz, com 80% de desconto.
Terminada a gravação, o programa foi colocado no ar, dentro de uma grade de programação pré-agendada, ao mesmo tempo em que foi disponibilizado na internet, na página eletrônica da TV Câmara. Lá, qualquer cidadão pode acessar e ver os debates, como cabe a um serviço público e democrático ligado ao Parlamento brasileiro. O debate daquele dia, realmente, rendeu audiência, tanto que acabou sendo reproduzido em muitos sites da blogosfera.
Qual foi minha surpresa ao ser informado por alguns colegas, na quarta-feira passada, dia 18 de março, exatamente quando completei 43 anos (23 dos quais dedicados ao jornalismo), que o link para o programa havia sido retirado da internet, sem que me fosse dada nenhuma explicação. Aliás, nem a mim, nem aos contribuintes e cidadãos brasileiros. Apurar o evento, contudo, não foi muito difícil: irritado com o teor do programa, o ministro Gilmar Mendes telefonou ao presidente da Câmara dos Deputados, Michel Temer, do PMDB de São Paulo, e pediu a retirada do conteúdo da página da internet e a suspensão da veiculação na grade da TV Câmara. O pedido de Mendes foi prontamente atendido.
Sem levar em conta o ridículo da situação (o programa já havia sido veiculado seis vezes pela TV Câmara, além de visto e baixado por milhares de internautas), esse episódio revela um estado de coisas que transcende, a meu ver, a discussão pura e simples dos limites de atuação do ministro Gilmar Mendes.
Diante desta submissão inexplicável do presidente da Câmara dos Deputados e, por extensão, do Poder Legislativo, às vontades do presidente do STF, cabe a todos nós, jornalistas, refletir sobre os nossos próprios limites. Na semana passada, diante de um questionamento feito por um jornalista do Acre sobre a posição contrária do ministro em relação ao MST, Mendes voltou-se furioso para o repórter e disparou: "Tome cuidado ao fazer esse tipo de pergunta". Como assim? Que perguntas podem ser feitas ao ministro Gilmar Mendes? Até onde, nós, jornalistas, vamos deixar essa situação chegar sem nos pronunciarmos, em termos coletivos, sobre esse crescente cerco às liberdades individuais e de imprensa patrocinados pelo chefe do Poder Judiciário? Onde estão a Fenaj, e ABI e os sindicatos?
Apelo, portanto, que as entidades de classe dos jornalistas, em todo o país, tomem uma posição clara sobre essa situação e, como primeiro movimento, cobrem da Câmara dos Deputados e da TV Câmara uma satisfação sobre esse inusitado ato de censura que fere os direitos de expressão de jornalistas e, tão grave quanto, de acesso a informação pública, por parte dos cidadãos. As eventuais disputas editoriais, acirradas aqui e ali, entre os veículos de comunicação brasileiros não pode servir de obstáculo para a exposição pública de nossa indignação conjunta contra essa atitude execrável levada a cabo dentro do Congresso Nacional, com a aquiescência do presidente da Câmara dos Deputados e da diretoria da TV Câmara que, acredito, seja formada por jornalistas.
Sem mais, faço valer aqui minha posição de total defesa do direito de informar e ser informado sem a ingerência de forças do obscurantismo político brasileiro, apoiadas por quem deveria, por dever de ofício, nos defender.
Leandro Fortes , Jornalista
Brasília, 19 de março de 2009

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