quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

O Gato Billy, o Corrupto, o Espertalhão, o Premiado e os Otários

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Num país como o nosso, onde um escândalo nasce a cada novo raiar do sol, as coisas podem assumir tal grau de surrealismo que para um observador desatento a impressão causada é semelhante a ser catapultado para um universo paralelo onde, conceitos subjetivos e noções distorcidas da realidade, são o senso comum e a base de toda a razão.
O caso do “Gato Billy”, alçado a categoria de beneficiário do Bolsa Família por seu dono o coordenador do programa no município de Antônio João/MS, é especialmente emblemático por mostrar em toda clareza e majestade a mais profunda verdade sobre a corrupção: Quando não há valores morais e caráter presente, não há meios que sejam capazes de evitar a roubalheira da corrupção.
Mesmo com os controles adotados pelo sistema do Bolsa Família, que incluem visitas as casas dos cadastrados e acompanhamento escolar e de saúde, o corrupto e o mau caráter sempre acharão serem capazes de burlá-los. Ainda mais se o corrupto e mau caráter do caso for o próprio coordenador ou alguém ligado à fiscalização do sistema. O descaso e a certeza da impunidade são tão grandes nesses espertalhões, que a necessidade de forjarem-se dados de pessoas, vivas ou mortas, para pôr em prática seus planos nem mais é um complicador.
Acalentados pelas decisões frouxas protagonizadas pelo Judiciário (que ultimamente virou o abrigo e o porto seguro dos corruptos), pela incrível morosidade das apurações e inquéritos e a quase total ausência de punições e de recuperação dos valores desviados, esses espertalhões agora passam a forjar dados grosseiramente e a desprezar qualquer possibilidade de serem apanhados em seus deslizes. E, mesmo que o sejam, sabem que ainda encontrarão alento e promoção social entre seus pares e sua comunidade. Serão tidos como “espertos”, “sabidos”, “malandros” e até poderão chegar ao tão cobiçado momento de serem chamados de “excelências”.
Tais atos e suas possíveis conseqüências podem ser claramente percebidos através das declarações do coordenador após ter sido apanhado no ilícito: “Estava passando por necessidades financeiras. Então, se colocasse o nome lá, R$ 20 (valor pago por mês) a mais me ajudaria. Meu salário era baixo (R$500,00). (…) Foi um momento de fraqueza. Jamais deveria ter feito isso, mas infelizmente não sei explicar pra ninguém o motivo de ter feito isso”. O interessante, é que a menção ao gato é apenas um dos ilícitos, já que ele ainda inscreveu dois filhos que nunca teve no benefício. Ora, caros leitores, o arrependimento é claramente pelo fato de ter sido apanhado e não pelo roubo que praticava. Afinal de contas, trata-se da eterna visão dos que acreditam que dinheiro público não tem dono.
Mas, se analisarmos o desfecho surreal do caso; poderemos compreender em sua totalidade o que motivou o corrupto dono do Gato Billy a incluí-lo despreocupadamente no programa do Bolsa Família. Ao invés de ser severamente punido e encaminhado à prisão; esse “cidadão” foi premiado pela classe política do Mato Grosso do Sul com um cargo do “assessor parlamentar”, onde ganhará “um pouco mais” e terá acesso a valores ainda maiores do que os meros vinte reais pagos ao Gato Billy. Sua declaração ao comentar esse fato, fala por si e depõe sobre o “caráter irrepreensível” e a “boa índole” que esse senhor tem: Vou ser assessor parlamentar de um vereador, o salário será “um pouquinho” maior do que o anterior, mas a jornada de trabalho, bem menor. “Trabalhava oito horas e lá vou trabalhar quatro.
Pois é, leitores, o corrupto é pego em flagrante, é promovido e ainda ganha um aumento de salário e redução na jornada de trabalho. Assim, certamente, poderá passar mais tempo com seu inseparável Gato Billy ao qual tanto ama.
Ah! Um detalhe: O Gato Billy já não está entre os vivos faz tempo.
Você ainda está se perguntando onde estão os otários do título?
Pense nisso.

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