segunda-feira, 11 de agosto de 2008

Após 18 Anos de Esquecimento!

Placa em homenagem a militar é descerrada na Capital
A placa de homenagem ao cabo Valdeci de Abreu Lopes — vitimado por um golpe de foice durante enfrentamento com colonos sem-terra há 18 anos — foi descerrada por volta das 11h30min desta sexta-feira na esquina democrática, no cruzamento das avenidas Borges de Medeiros e Andradas, em Porto Alegre. "Aqui tombou um herói brigadiano em defesa da sociedade gaúcha", diz a placa. A cerimônia, que se estendeu por quase uma hora, causou congestionamento no Centro, pois as ruas próximas ao evento tiveram de ser bloqueadas.
"A morte do meu marido foi inútil", diz viúva de Valdeci
O soldado da BM foi degolado com um golpe de foice em confronto com sem-terra em 1990
Sônia de Oliveira Lopes, 42 anos, ficou viúva no dia 8 de agosto de 1990 quando seu marido, o então soldado da BM Valdeci de Abreu Lopes (postumamente promovido a cabo), foi degolado com um golpe de foice em confronto com sem-terra. O episódio entrou para a história do Estado como o Conflito da Praça da Matriz, um enfrentamento entre o MST e a BM que se iniciou em frente ao Palácio Piratini e se espalhou pelo centro da Capital.
Ontem, ela não compareceu à homenagem prestada pela BM a Valdeci. Discreta, ela concedeu entrevista a Zero Hora, sob duas condições: que não fossem publicadas fotos suas e que seu endereço fosse preservado.
Sônia criticou a homenagem, disse que não foi feita justiça e que a morte de seu marido não serviu para impedir episódios semelhantes. Confira trechos da conversa:
Zero Hora — Por que a senhora não foi à solenidade em homenagem ao seu marido?
Sônia de Oliveira Lopes — Tinha consulta médica marcada. E também porque não queria remexer as feridas deixadas pela morte dele.
ZH — Na época da morte de Valdeci, a filha de vocês, Carine, tinha um ano e nove meses. Como ela está hoje?
Sônia — Tem 18 anos e está lutando por uma vaga no mercado de trabalho. É uma boa menina.
ZH — O que a senhora achou da homenagem prestada a Valdeci?
Sônia — Não muda nada nas nossas vidas, porque durante todo esse tempo a família não foi procurada. E passamos por momentos bem difíceis. Acho que a homenagem foi para fazer mídia.
ZH — Qual é a sua rotina?
Sônia — Sou dona de casa, cuido da minha filha e tenho namorado.
ZH — Alguma mágoa desse episódio ainda a perturba depois de todos esses anos?
Sônia — Não foi feita justiça. Houve gente presa, mas foi por pouco tempo. Eles (os sem-terra) continuam fazendo as badernas deles. A morte do meu marido foi inútil. Não gosto de falar no assunto e, também, temo ficar exposta.
ZH — Quando a senhora cruza com as manifestações dos sem-terra fica perturbada?
Sônia — No início, sim. Hoje sou indiferente, porque nada fará o Valdeci voltar.
ZH — O que mais a perturba em relação ao dia em que seu marido foi morto?
Sônia — Ele não deveria estar lá naquele horário, porque já tinha terminado o turno de serviço. Foi lá enviado pelo seu superior. Aconteceu porque Deus disse que era a hora dele.
ZH — O que mais lhe causa indignação em relação aos sem-terra?
Sônia — No meu pensamento, quem quer conseguir as coisas precisa trabalhar para chegar lá. Não é matando, como eles fizeram.

O conflito
— Há 18 anos, o centro de Porto Alegre se transformou em campo de guerra, quando policiais militares e sem-terra se enfrentaram com tiros de festim, gás lacrimogêneo, foices e pedras.
— O conflito, que se prolongou por oito horas, resultou em 72 feridos e um morto — o PM Valdeci de Abreu Lopes, então com 27 anos.
— O cenário trágico começou a se desenhar ainda na madrugada, quando cerca de 400 colonos se instalaram na Praça da Matriz, diante do Palácio Piratini.
— No fim da manhã, quando representantes dos sem-terra, deputados e secretários acertavam uma saída pacífica, estourou a batalha campal.
— O estoque de sangue no Hospital de Pronto Socorro, para onde iam as dezenas de vítimas do enfrentamento, ficou com o estoque zerado.
— O incidente mais grave ocorreria por volta das 11h30min na Esquina Democrática, cruzamento das avenidas Borges de Medeiros e Andradas. Ali, Valdeci acabou cercado por manifestantes e teve a garganta cortada.
— Seis integrantes do movimento sem-terra foram condenados como co-autores do assassinato.
— Valdeci já tem uma homenagem na Capital — uma obra de arte que leva seu nome, instalada em um canteiro da Rua Silva Só.
Fonte: Zero Hora - 8 Ago 08
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