sexta-feira, 27 de junho de 2008

Figuras da República

por Gilberto de Mello Kujawski
Franklin Martins, o pequeno (Comunicação Social) — Homônimo de Benjamin Franklin, o grande estadista americano, que redigiu junto com Jefferson e Adams a Declaração da Independência, foi plenipotenciário de seu País na França, pesquisador científico e o inventor do pára-raios. O ministro de Lula, Franklin, o pequeno, só tem em comum com o homônimo americano o fato de implantar pára-raios no Planalto para absorver as descargas da imprensa livre. Comete o pior engano que um político ou um jornalista podem cometer: pensar que o povo brasileiro é bobo, (só porque elegeu Lula duas vezes?).
Guido Mantega, o sem-sal (Fazenda) — Dá impressão de amadorismo, suas falas não convencem nem os entendidos nem os leigos. Impossível ouvi-lo por mais de um minuto. E tome rotacismo (“O Brrasil serrá grrande potência...), nada que uma boa fonoaudióloga não possa corrigir.
Luis Dulci, o pombinho (Secretaria Geral da Presidência) — Uma figurinha difícil. Escapista profissional, nas entrevistas e nos debates escorrega como peixe ensaboado. Nas missas do PT (reuniões, congressos) é ele que distribui os santinhos, com seu perfil de congregado mariano. Mas, cuidado, parece um pombinho, mas é um falcãozinho.
Walfrido dos Mares Guia, o “avis rara” (Relações Institucionais) — A estranheza começa na extravagância do nome. Walfrido é nome de origem germânica. Nada mau para um caboclo mineiro. Dos Mares? Minas não tem mar. Guia? Pode ser, tem faro para muitas coisas. Empresário riquíssimo, fundador do Grupo Pitágoras, rede de ensino com 595 colégios, seis no Japão, e nove Faculdades. Tem fama de vender geladeira para esquimó e dar nó em fumaça. Veste-se com elegância clássica que trai seu formalismo de experiente cortesão. Hábil com números, seu intento é substituir o boquirrotismo retórico do meio político, pelo cálculo aritmético. Só não diz que é mais fácil esconder as coisas erradas sob os números do que sob as palavras.
Tarso Genro, o mandarim frustrado (Justiça) — Este moço loiro de Porto Alegre é movido a vaidade intelectual. Politicamente ingênuo, sem o maquiavelismo nem a malícia jurídica do antecessor, Márcio Thomaz Bastos, quando da escalada de escândalos atingindo o PT, propôs, solenemente, a “refundação” do partido. Pregou no deserto. Seus correligionários não lhe deram ouvidos e viraram-lhe as costas. Falcão do PT, mas de bico rachado.
Romero Jucá, o ilusionista (líder do governo no Congresso) — Jucá é uma raposa de La Fontaine. Artesão dos conchavos de bastidores, quando abre a boca para falar, é mestre na arte de usar as palavras para encobrir o pensamento. Tem resposta para tudo e dá a impressão de absoluta sinceridade nas suas intervenções oblíquas. Um ilusionista de feira nordestina ou nortista.
Ideli Salvatti, a carente (líder de Lula no Senado) — Totalmente carente de simpatia e de sedução, quando toma a palavra, com os olhos esbugalhados e nervos crispados, é um salve-se quem puder. Se fosse delegada de polícia, até Fernandinho Beira-Mar lhe daria o serviço completo. Sua retórica, do tipo obsessivo e agressivo, é vazia e sem o menor brilho.
Dilma Roussef, a gerentona (Casa Civil) — A ministra Dilma, ex-guerrilheira, amiga pessoal de José Dirceu, é a “russa” do governo. Personalidade desafiante, trabalha a todo vapor. Workaholic. Ambiciosa, autoritária, concentradora, sem um pingo de diplomacia. Por mais que se diga “anfíbia”, meio-técnica, meio-política, sua cabeça é blindadamente técnica, de feitio administrativo–tratorista.
Celso Amorim, o arrepiado (Relações Exteriores) — Amorim vive com os cabelos em pé, e não é para menos. Pressionado entre Lula, Chávez, Morales e Bush, apela para a linha de menor resistência. Não se inspira num plano integrado de política exterior.
Renan Calheiros, o “inucente” — Renan vive repetindo: “eu sou inucente”, e o pior é que ele pode acreditar nisso. Vende a alma ao diabo e considera-se inocente. Artista da vitimização, seu caradurismo não tem limites. Mas aquele riso fixo e forçado do presidente do Senado é um pavoroso ricto cadavérico. “Vendo-me caro. Paguem meu preço e sairei da presidência.”
José Sarney, o “poeta feliz” — E agora eu lhe pergunto, senador: qual é a sua? Misto de humanista e oligarca, coronel e acadêmico, ex-presidente da República, ex-quase tudo, como é que o senhor se define debaixo de suas maneiras impecáveis e de seus escritos tão amenos? Suas crônicas na imprensa destilam o conto do politicamente correto. Mas que tipo de ser humano subsiste sob a máscara diplomática de embaixador da boa vontade e da conciliação? O senhor mostra transparência só para esconder sua opacidade e seus pontos obscuros, beirando o farisaísmo. Sua bagagem humanista, sua vocação de conciliador não conseguem disfarçar sua natureza mais autêntica, a de um camaleão da política, um comediante do poder que se julga acima do bem e do mal, e que assim passará à História. O senhor é um homem culto e quase tão inteligente quanto FHC. Poderia ter empregado suas qualidades para melhorar nosso País e o seu Maranhão (“um deserto de miseráveis”, segundo Jabor). Em uma de suas residências o senhor gravou a inscrição: “Esta é a casa de um poeta feliz.” Dante foi feliz? Camões? Baudelaire foi feliz? Por acaso, Fernando Pessoa ou Drummond? O poeta vive em luta com seu destino, dela extrai a gema de sua poesia, e não tem tempo de ser feliz. O “poeta feliz” só pode ser um poeta menor.
Gilberto de Mello Kujawski, é escritor e jornalista.
COMENTO: Consta que por causa desse texto, o jornalista Gilberto Melo Kujawski foi demitido do Estadão. Sinceramente, o texto é bem humorado, mas nada que não se saiba a respeito das figuras mórbidas que ele descreveu com tanta propriedade. Vamos fazer o texto andar, para que todos saibam mais de perto quem são as figuras pífias da republiqueta.

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