sábado, 28 de junho de 2008

Coronel Ustra Desmente Reportagem de Época

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"No dia 25/06/2008, fui procurado em minha residência pelo repórter Matheus Leitão e um fotógrafo que disseram já ter ouvido pessoas de minhas relações. Desejavam uma entrevista para a Revista Época, sobre a Ação Cívil que seis Procuradores da República estão movendo contra mim. Informei-lhes que havia estabelecido uma regra pela qual não daria entrevistas, pois sempre que isso acontece as minhas palavras são desfiguradas quando publicadas. Como estavam com problemas para comprar o meu livro "A Verdade Sufocada" (inclusive estavam usando um emprestado da Biblioteca do Senado Federal), propus-me a oferecer-lhes a 4ª edição desse livro. Como sugestão do meu advogado, Dr. Paulo Esteves, entreguei-lhes também o histórico de minha passagem pelo DOI — "Contestações às injúrias e difamações contra mim" —, que escrevi para a concatenação da minha defesa.
Na ocasião pediram-me cópias de minhas Folhas de Alterações (histórico de minha vida militar), insistindo, inclusive, para levá-las, xerocarem e depois me devolverem. Ofereci-lhes, apenas, cópias do período em que estive no DOI. Portanto, tudo que eles receberam de mim foram documentos escritos, dos quais poderiam usar, como manifestações minhas, as transcrições de meus textos.
As palavras usadas por Paulo Moreira Leite, no seu artigo intitulado "Ustra e a confusão", tratam-se de conclusões e idéias dele, um ex-militante da LIBELU (Liberdade e Luta), organização subversiva, sem muita expressão, a que pertenceu.
Hoje, pela manhã, surpreendi-me com as declarações do referido senhor, diretor da Revista Época, que, ao que parece, não leu a Ação Cível, nem o histórico sobre minha atuação no DOI.
Passo a comentar, por tópicos, o que Paulo Moreira Leite escreveu:
PML — O repórter Matheus Leitão publica um furo no portal de Época: o texto de defesa do coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, que comandou o DOI paulista entre 1970 e 1974, quando ocorreram 60 mortes e centenas de pessoas foram torturadas, e que hoje é alvo de uma ação pioneira do Ministério Público para apurar suas responsabilidades no caso.
Resposta: Ele contabiliza 60 mortos, quando na Ação Cível são listados, durante o meu comando no DOI, 47 mortos. No meu histórico relaciono 37 mortos em confronto com o DOI e dez que nunca estiveram sob minha guarda e responsabilidade.
PML — O fato de Ustra ter constituído um advogado, Paulo Esteves ...
Resposta: Recebi uma intimação para apresentar minha defesa no prazo de 15 dias, após ser citado. Quem não constituiria um advogado num processo desse tipo? Além do mais, constituir advogado pressupõe o uso do direito ao contraditório e não qualquer admissão de culpa.
PML ... e ter redigido um documento de defesa, é em si um dado positivo — mostra que o processo pode ir adiante, o que seria ótimo para um país que até hoje não foi capaz de ajustar as contas com o passado da ditadura.
Resposta: Seria realmente excelente para o país se todos tivessem espaço e voz na mídia, sem que suas palavras fossem adulteradas, e não se desse vez apenas a ex-militantes subversivos e hoje revanchistas, que não sossegarão enquanto não conseguirem colocar na cadeia, a exemplo de outros países sul-americanos, os que lutaram contra a implantação de uma ditadura comunista no Brasil. Ganhamos a batalha, mas perdemos a guerra, por falta de mídia, de espaço, de vez.
Seria ótimo que os arquivos fossem abertos, sem modificações e que fossem expostos os crimes cometidos pelos "heróis de hoje". Seria ótimo que se levasse ao público a verdadeira motivação que levou esses "jovens que lutaram pela liberdade" a lançarem-se na luta armada. Seria ótimo que o povo soubesse que um delírio qualquer, mesmo a existência de uma simples japona, agora é suficiente para que se diga que um preso foi morto sob tortura. Seria ótimo que os gritos que pareciam provir de um jovem, que uma testemunha nem conhecia, ouvidos na madrugada, no período em que desapareceu um menino de 18 anos, não servissem como prova de que vinham desse desaparecido e de que ele foi morto sob tortura, no DOI. Seria ótimo que apenas o testemunho de um filho, dizendo que me viu matar seu pai a pauladas no pátio do DOI, fossem averiguadas e que não servissem de provas contra mim, já que seu pai, que assassinara o industrial Henning Albert Boilesen, foi morto em confronto com a polícia, enquanto eu convalescia de um problema cirúrgico havia apenas um dia. Seria ótimo que fossem averiguadas as palavras desse mesmo rapaz, que também serve como testemunha no caso da morte de Yoshitame Fujimore em confronto com o DOI, meses após ter matado a coronhadas o Tenente PMESP Alberto Mendes Júnior. Segundo ele, o Inquérito Policial que apurou o caso foi forjado, porque um motorista de táxi, do qual não sabe o nome e nem a placa do carro, "lhe contou que Fujimore fora torturado na rua e levado com vida para o DOI".
São inúmeras as denúncias de morte por torturas que, se investigadas, restariam desmoralizadas e descartadas de imediato.
Assim, na maioria da mídia enviesada, todas as nossas versões são falsas e os inquéritos e julgamentos nas auditorias militares uma farsa.
Não existe interesse da esquerda armada para que a verdade apareça. O mito de "jovenzinhos inocentes" e massacrados pela ditadura hoje dá prestigio, dinheiro, voto e vende revista.
A quem interessa desfazer essas balelas? Somente a nós, que lutamos para que o Brasil não virasse uma Cuba, ou, na melhor das hipóteses, uma Colômbia, com as FARC matando e seqüestrando por 40 anos.
PML  Ustra se diz vítima do revanchismo e reclama que não pode ser abandonado pelos atuais comandantes militares. São argumentos antigos.
Resposta: Do revanchismo acho que somente os ligados à "causa" não pensam dessa maneira. Quanto aos atuais comandantes militares, eles conhecem a história, malgrado os mais velhos ainda serem cadetes naqueles tempos. Viveram a violência da época. Sabem que houve uma reação oficial das Forças Armadas à ação de grupos de subversivos, de terroristas e de muito poucos inocentes úteis.
PML — Mas a defesa de Ustra também mostra a intenção — previsível — de quem pretende confundir mais do que esclarecer. Ele chama o senador Romeu Tuma como testemunha de defesa, sustentando que, nos anos da ditadura, o então delegado do DOPS era uma presença permanente e comprometida com a violência que ocorria na masmorra da rua Tutóia, em São Paulo, onde funcionava o DOI. Mesmo que isso seja verdade, o que está longe de ter sido demonstrado, pois até o momento Tuma não foi ouvido a respeito, a acusação é um óbvio recurso desviacionista. O mesmo se pode dizer sobre a ideia de convocar os atuais comandantes militares para depor. O coronel também nega que tenha dado ordens de tortura nas dependências de seu comando, alegação pouco crível diante da imensa quantidade de testemunhas que sustentam o contrário.
Resposta: A minha defesa foi totalmente deturpada e creio que nem mesmo foi lida pelo Sr Paulo Moreira Leite. Jamais pretendi confundir. Relacionei o Senador Romeu Tuma como testemunha de defesa, exatamente por ser ele um dos poucos cidadãos hoje vivos que trabalharam em São Paulo, na mesma época que eu, e que era elemento de ligação entre o DOPS, do qual era delegado, e o comando do II Exército e o DOI. Jamais escrevi na minha defesa que o Senador Romeu Tuma "era uma pessoa comprometida com a violência que ocorria nas masmorras do DOI". Trata-se de um homem sem mancha em sua carreira pessoal ou política e com o qual convivi, freqüentemente, em reuniões no QG II Exército, no DOI, no DOPS e em reuniões sociais. É risível esse detrator dizer que a invencionice que ele próprio atribui a mim é "óbvio recurso desviacionista" e que "mesmo que isso seja verdade, o que está longe de ter sido demonstrado, pois até o momento Tuma não foi ouvido a respeito". Além de ridicularia, trata-se de claro pré-julgamento movido pela negligência em deixar de ouvir o senador.
O Senhor Paulo Moreira Leite, sem nenhum compromisso com a verdade, deturpa o que eu escrevi em meu documento de defesa. Além do mais, joga-me, com insinuações e invenções, contra uma testemunha que, tenho certeza, jamais negará o que afirmo abaixo na conclusão do documento de 31 páginas, entregue ao repórter:
"Legalmente e fielmente, estive sob as ordens do Presidente da Republica, general Emílio Garrastazu Médici, que assinou a Diretriz que criou os DOI; do Ministro do Exército, general Orlando Geisel; dos comandantes do II Exército, generais José Canavarro Pereira e Humberto de Souza Mello; dos chefes do EM II Exército, generais Ernani Ayrosa da Silva, Enéas Martins Nogueira e Mário de Souza Pinto; e do Chefe do Centro de Informações do Exército (CIE), general Milton Tavares de Souza. Todos, infelizmente, já falecidos.
No DOI cumpri, rigorosamente, as ordens emanadas dos meus superiores. Nunca recebi uma ordem absurda, nem emiti nenhuma determinação desse tipo. Jamais fiz prisões ilegais, permiti torturas, abusos sexuais, homicídios, desaparecimentos forçados e ocultação de cadáveres. Jamais fui chamado à atenção por qualquer dos chefes citados. Tenho a certeza de que esses homens, com a sua estirpe e com o seu passado, se vivos fossem não me deixariam só nesta hora em que os revanchistas de plantão, por vingança, querem colocar-me em julgamento.
O Exército Brasileiro é uma Instituição Nacional Permanente e creio ser ele quem deve dar a devida resposta a esses detratores, dentro da lei e no interesse da Justiça. Omissão nunca foi característica das suas tradições em nenhuma época. Não fez parte da sua História perder os anéis para salvar os dedos. Certamente, será assim neste momento.
Desejando que a História não seja deturpada e que os fatos narrados por mim sejam comprovados como verdadeiros, apresento como minhas testemunhas:
— o senador Romeu Tuma, que acompanhou e viveu a situação de violência da época e o trabalho do DOI/II Ex, já que, como delegado da Polícia Civil, era o elemento de ligação entre o Comando do II Exército e o Departamento de Ordem Política e Social (DOPS), órgão no qual estava lotado; e
— os oficiais do Exército Brasileiro ocupantes, no momento de sua oitiva neste processo, das funções de Comandante do Exército Brasileiro, Comandante Militar do Sudeste, Chefe do Estado Maior do Sudeste e Chefe do Centro de Inteligência do Exército (CIE). Eles, hoje, são os substitutos legais dos chefes, que, na época do meu comando do DOI/II Ex, deram-me as ordens cumpridas por mim, rigorosamente.
Tais militares, ainda que jovens naquela época — cadetes, aspirantes ou tenentes —, vivenciaram ou acompanharam a violência daquela quadra conturbada, em instruções, palestras e ouviram os testemunhos dos combatentes pró-democracia."
PML: O país precisa encarar seu passado e conhecer a verdade sobre tantas mortes não esclarecidas, tanta violência que permanece escondida até hoje. Sem isso, o país arrisca-se a repetir erros e tragédias que todos gostariam de esquecer — não fosse tão grande a dor guardada na memória. Concorda?
Resposta: Não só concordo, como digo que nós, que vencemos a luta armada e combatemos a violência que só tendia a crescer, seríamos os mais beneficiados caso os arquivos fossem abertos e sem cortes. A verdade daí afloraria e as denúncias contra nós não teriam a menor consistência."
Carlos Alberto Brilhante Ustra, Cel Refo.
Fonte: Navegação Programada

Um comentário:

Anônimo disse...

Pena que as atrocidades cometidas pelo outro lado não afloram... Apenas quem atuou do lado da lei e da ordem, como o Cel Ustra é que ficam sob fogo inimigo... E a Força não age nem diz nada!!! Não movem uma palha para defenderem aqueles que, no passado, arriscaram a vida contra a subversão e o terrorismo! FORA LULA, FORA TARSO, JÁ!!!