terça-feira, 19 de fevereiro de 2008

Um Governo Surrealista

por Luís Mauro Ferreira Gomes (*)
Sempre encontramos dificuldade para entender o que, verdadeiramente, se pretendia com o supra-realismo, principalmente, no que faz às incursões pelos domínios dos valores, em particular, os morais, os políticos, os científicos e os filosóficos.

Nas manifestações artísticas e literárias que inspiraram o movimento, não podemos negar que, certas vezes, conseguimos encontrar alguma beleza e certa coerência, até, apesar da inconsistência estética e lógica que propunham, por princípio.
Ainda assim, parece-nos que, tanto nas Artes quanto na Filosofia, jamais deveríamos ir além de pequenos retoques que realcem a beleza da realidade, sem alterar a essência das coisas nem comprometer a verdade, sob cujo primado, devemos, tanto quanto possível, pautar todas as nossas ações. 
Somente privilegiando a razão, que nos distingue dos demais seres vivos que usam outras habilidades, particularmente, a força bruta, reuniremos melhores condições de sobrevivência nos mundos natural e social em que vivemos. 
Obviamente, não defendemos a renúncia total ao uso da força. Há situações em que ela é a última linha defensiva contra quem a usa contra nós. Se renunciarmos definitivamente ao seu emprego, abdicaremos do direito à legítima defesa e nos condenaremos à morte pelas mãos do inimigo. Empregá-la, nesses casos, é um dever.
Posto isso, se dúvidas tínhamos sobre as reais possibilidades do Surrealismo, a simples observação do que acontece no Brasil dirimiu-as todas. Ele existe, sim, e vem sendo praticado intensamente em todas as instâncias do governo brasileiro.
Os exemplos usados para fundamentar a afirmação foram escolhidos entre fatos políticos recentes, que, por certo, serão lembrados pelos leitores, mas a coleção completa, constante dos outros artigos que vimos escrevendo, desde o início do primeiro mandato do presidente Luiz Inácio da Silva, mostra que o fenômeno é verdadeiro e constante no tempo, em todo o período considerado.
O Globo, na primeira página da edição de 10 de fevereiro, noticia: “Doenças ligadas à pobreza, como diarréia, desnutrição, malária e tuberculose, matam 33,5 mil pessoas por ano no Brasil — mais que o total de vítimas de acidentes de trânsito”. 
De início, vemos que os programas sociais, conhecidos como bolsas-esmola, podem comprar votos, mas não compram saneamento nem saúde. 
Ainda assim, era de se esperar que o governo, diante dessas estatísticas que evidenciam o fracasso da gestão, adotasse medidas enérgicas para corrigir o problema. Mas não! Os governantes preferem deixar a Saúde Pública abandonada, para transferir a culpa da própria irresponsabilidade para a oposição, que, em boa hora, fulminou a PEC que prorrogava a CPMF.
Paradoxalmente, o que vimos foi a edição de Medida Provisória que proíbe a venda de bebidas alcoólicas em estabelecimentos comerciais localizados em rodovias federais ou nas suas proximidades. Outra irracionalidade. Em vez de punir o motorista que dirige imprudentemente ou provoca acidente, castigam passageiros e comerciantes, como se proibir por proibir fosse a solução. A medida arbitrária, além de ineficaz, é inexeqüível, mas isso pouco importa. Ela rende dividendos demagógicos e mantém os cidadãos acuados, sob a dominação de um Estado feroz que os deixa sem condições para pensar nos problemas mais sérios que os afligem e no governo que os oprime. Além do mais, estimula, ainda, a corrupção policial.
Não há dinheiro para investir em saúde nem para a manutenção das nossas estradas, contudo o presidente da República doa um hospital para a Nigéria e “empresta”, sabidamente a fundo perdido, dois bilhões de dólares ao ditador Fidel Castro para, justamente, aplicar nas estradas cubanas.
Também falta dinheiro para o aumento dos funcionários públicos, enquanto ministros de Estado, funcionários públicos aliados e parentes do presidente fazem a maior farra com dinheiro público desviado, servindo-se, para tanto, dos cartões de crédito corporativos que, supostamente, foram introduzidos para impedi-lo.
Descobertas e denunciadas as irregularidades, enganou-se quem pensou que o governo iria apurar os fatos e punir os culpados. Doce ilusão! O que vimos foi a ministra-chefe da Casa Civil, com a agressividade que lhe é peculiar desde os tempos de guerrilheira, atropelar a verdade, alegando, para “provar” a lisura dos gastos, entre outras bobagens, que as despesas com suprimentos de fundos diminuíram no atual governo.
Outra solução engendrada para prevenir o desgaste decorrente de “acidentes” futuros é tirar os cartões dos ministros, passando-os a “aspones” dispensáveis, que assumiriam o ônus das utilizações irregulares. Mais uma tentativa ridícula de delegar a responsabilidade juntamente com a competência, como vem fazendo, com rara habilidade, o próprio presidente.
Mas o mais lamentável é que, na entrevista coletiva, a ministra e um jornalista, que também não vamos qualificar, pois as respectivas folhas-corridas são bastante conhecidas, estavam acompanhados do Chefe da Agência Brasileira de Inteligência, aparentemente, para coonestar, com o prestígio que as Forças Armadas brasileiras desfrutam junto ao povo, o embuste que se praticava.
Com espanto e decepção, vimos o General demonstrar exagerada preocupação com a segurança presidencial, que, nada indica, esteja ameaçada, mesmo porque os nossos terroristas são seus companheiros e estão, quase todos os ainda vivos, no seu governo ou em partidos da sua base de sustentação política. 
Mas a afinidade com os terroristas não pára por aí. Ao mesmo tempo em que o governo prende e deporta atletas cubanos ameaçados pelo tirano local e se mostra “indiferente” aos cidadãos colombianos que conseguiram atravessar as nossas fronteiras, fugindo dos horrores das FARC, concede, ao arrepio da Lei, a proteção do instituto do asilo para um narcotraficante das mesmas FARC, que se diz padre e foi acusado de ser o portador de doação ilegal de cinco milhões de dólares do narco-terrorismo colombiano para a campanha de reeleição do presidente. 
E o chefe da ABIN não hesitou em culpar e ameaçar quem liberou os dados do consumo com cartões ligados à presidência para o Portal da Transparência, afirmando, ainda, que os gastos com o presidente e com seus familiares não mais seriam divulgados, justificando-o com a afirmação de que “excesso de transparência gera insegurança”. 
Se, como disse, pelo volume de tais desembolsos, elementos mal-intencionados poderiam saber quantas pessoas compõem a segurança presidencial, a disseminação talvez fosse desejável: quem quer que tivesse acesso ao montante usado desistiria das intenções hostis, desestimulado por imaginar um verdadeiro exército a defender tão poucas pessoas.
Não obstante, a futilidade dos dispêndios mostra que, verdadeiramente, ninguém está preocupado com segurança. O que querem, mesmo, é se servirem do dinheiro público, como se deles fosse.
Todas as nações têm verbas secretas, sim. Estas, porém, são, normalmente, as destinadas aos serviços de informações e ao reequipamento, ao preparo e ao emprego das Forças Armadas. No Brasil, as previsões orçamentárias insignificantes a elas destinadas são, sistemática e ostensivamente, divulgadas, expondo a vulnerabilidade criminosa que um governo hostil vem impondo ao País, mediante o esfacelamento de uma das pouquíssimas instituições ainda não corrompidas, e a única capaz de defendê-lo das ameaças externas e impedir a dissolução do Estado de direito, se, ou quando, isso vier a ser tentado.
Desse modo, melhor faria Sua Excelência, se estivesse mais preocupado com o enfraquecimento das Forças Armadas e com o que, verdadeiramente, ameaça o governo: a corrupção epidêmica que o acomete em todos os níveis e as investidas subversivas de seus integrantes, tudo com a conivência do presidente da República, que, como sempre, nada vê, nada ouve, nada sabe e nada faz.
Afinado, em coro com os outros atores já citados, o ministro da Justiça, sem nenhum pejo, dá uma inquestionável prova de que, como ministro, está mais a serviço do PT do que do Estado brasileiro, ao declarar que a apuração dos desvios apontados no uso dos cartões neste governo deveria retroagir à administração anterior e incluir, também, os gastos com suprimentos de fundos. Segundo ele, veríamos, então, quem gastou mais e cometeu mais irregularidades. Mais um que procura isentar de responsabilidade agentes governamentais acusados de uso indevido de dinheiro público, com o subterfúgio de que, em outros governos, também o faziam.
A titular do ministério do racismo do governo petista, uma das acusadas de uso inadequado do cartão, sentindo-se sem condição de permanecer, demitiu-se do cargo. Mas não o fez por vergonha ou para facilitar as investigações. Parece óbvio que saiu para poupar o presidente, que preferiu, “entregar os anéis para não perder os dedos”. Depois de livrar-se dela, como nas incontáveis vezes que a história já se repetiu, não poupou elogios à companheira descartada. 
Esta, porém, procurou defender-se da irregularidade administrativa que lhe é imputada, pretextando ter sido vítima de racismo. Que racismo? Do presidente ou de si própria? Esqueceu-se a ministra de que, em nenhum momento, seus atributos físicos pessoais estiveram em jogo. Em questão, estavam, apenas, os seus gastos com o cartão corporativo. A única coisa que dela se esperava era mostrar a regularidade desses gastos, se isso fosse possível. Nesse caso, ela estaria ministra até hoje, fosse de que cor fosse.
Aliás, outra das loucuras perpetradas pelo atual governo é, precisamente, a reintrodução do racismo, com novas cores, no País. Para as nossas esquerdas, o preconceito de seus integrantes (como também a corrupção, a incompetência e a arbitrariedades) é louvável. Condenável, somente o dos outros.
Contaminadas que estão por uma lógica esdrúxula, não conseguem ver que são tão cruéis, perigosas e execráveis quanto o que houve de pior na humanidade, aí incluídos o nazismo e o fascismo, com os quais guardam forte semelhança. Que diferença haverá entre Hitler e Mussolini, de um lado, e, do outro, Stalin, Mao, Enver Hoxha, Ceausescu, Kim Jong-il, Pol Pot, Fidel Castro e muitos mais? A resposta é simples: o número muito maior de ditadores sanguinários e genocidas entre os comunistas. Em covardia e selvageria os dois grupos são equivalentes. Outra diferença é a tolerância e a leniência irracionais com que, no Brasil, estes últimos são tratados.
O governo e seu partido controlam, completamente, os institutos de pesquisa que  para não perderem as contas milionárias que, além das institucionais, incluem as das empresas estatais e de economia mista  continuam a fraudar, impunemente, os seus levantamentos, conforme as conveniências do momento, servindo-se, para tal, dos mais variados expedientes. Um dos mais simples acaba de ser usado. Como dissemos, as Forças Armadas têm grande prestigio e, geralmente, são indicadas como a instituição em que mais as pessoas confiam. Para, dolosamente, escamoteá-lo, pesquisa recentemente divulgada não as incluiu entre as opções apresentadas. Resultado: a Imprensa foi considerada a instituição mais confiável. 
Quem diria, justamente a imprensa, que, também para não perder, as benesses oficiais, deixou de ser livre para tornar-se majoritariamente governista.
Assim é que os meios de comunicação até divulgam notícias negativas sobre o governo, mas o fazem, na maioria das vezes, apenas para fingir isenção, abstendo-se, porém, de levá-las às últimas conseqüências.
Isso faz com que negociatas políticas sejam amplamente divulgadas, mas somente o suficiente para vender jornais, enquanto os agentes envolvidos debocham da sociedade e colhem, vitoriosos, os frutos dos conchavos que fazem as clara, seguros da impunidade.
Como explicar que, depois de hesitar e demonstrar desagrado e constrangimento com a indicação do PMDB (ou fingi-los), o presidente tenha cedido à pressão e nomeado o Senador Edison Lobão, mais um que nada entende da pasta, para o Ministério das Minas e Energia. Se fosse para o ministério da Cultura, até entenderíamos, uma vez que o senador é pianista.
No entanto, como os fatos noticiados indicam, a nomeação, feita em troca de votos de congressistas cooptados, a qualquer preço, para a implantação do projeto de poder petista, desta vez, teve, além das motivações normais (geralmente muito pouco éticas), claramente um objetivo fundamental que justificava tanta insistência do partido, apesar de todo o desgaste que causaria: a necessidade de dar foro privilegiado ao suplente do senador, seu filho, acusado de sonegação fiscal mediante o uso de laranja, de ser sócio oculto de uma empresa e de praticar irregularidade na venda de uma emissora de televisão.
Durante a posse do novo ministro, o presidente tentou, em discurso demagógico, transferir a responsabilidade de suas reticências para oposição, como se fosse esta que tivesse interesse em impedir a nomeação.
Finalmente, por ingenuidade, alienação, desânimo, interesses escusos, covardia, ou quaisquer outras motivações, muitos dos que deveriam insurgir-se contra essa situação caótica assistem, passivamente, à destruição do nosso País ou, mesmo, colaboram com aqueles que a promovem.
Somente se formos capazes de enfrentá-los com a violência necessária, conseguiremos vencê-los outra vez. Viveremos, então, em paz e “felizes para sempre”, pelo menos, por algum tempo. Será, sempre, indispensável estarmos atentos e preparados para as novas e criativas investidas dos inimigos ideológicos, cujos pensadores, felizmente, costumam escrever e anunciar, com grande antecedência, as estratégias que usarão, conforme a evolução dos acontecimentos. Mas é preciso, antes, acreditarmos em que eles não brincam e farão o que dizem, a não ser que sejam impedidos.
Por tudo isso, precisamos dar fim, o quanto antes, ao surrealismo extemporâneo que se abateu sobre nós. Se assim não fizermos, continuaremos a viver em um mundo irreal e fantasioso, enquanto governantes fanáticos nos escravizam e destroem, com o nosso consentimento alienado, tudo aquilo que construímos. 
Feito isso, implantarão a ditadura comunista, socialista, sindicalista, do proletariado, bolivariana, ou seja lá o que for, com que sempre sonharam. 
Depois não adiantará chorar.
(*) Luís Mauro Ferreira Gomes é Coronel-Aviador reformado.
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